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Tudo o que você precisa saber sobre o neoplasticismo e a influência de Piet Mondrian para a arquitetura

Em 1917, foi lançada, na Holanda, uma publicação chamada de ‘De Stijl’ (‘O Estilo’, traduzindo para o português), feita por artistas que estavam iniciando um movimento que ficou conhecido por neoplasticismo. Com ideias de vanguarda, eles defendiam a união de todas as artes, só que dentro de regras mais rígidas. Primavam por obras abstratas, sem qualquer profundidade, com elementos geométricos puros e cores primárias em estado totalmente saturado. Um ícone deste período é Piet Mondrian, cujos trabalhos quebravam as estruturas acadêmicas convencionais e serviram de inspiração para criativos de todas as áreas, incluindo a arquitetura.

 

Obra artística criada por Mondrian no início do século XX. (imagem extraída de Atelier)

+ Piet Mondrian e o surgimento do neoplasticismo

O pintor modernista Piet Mondrian nasceu em Amersfoort, na Holanda, no ano de 1872. Quando era jovem, ele decidiu empreender na carreira artística e acabou estudando na academia de Belas Artes, contrariando as vontades de sua família. No início, ele realizava obras mais naturalistas, retratando lindas paisagens. Passou pelo impressionismo, experimentando ainda mais as luzes, cores e formas. Mas, na década de 1910, influenciado pelos conterrâneos Jan Toorop e Theo van Doesburg, Mondrian foi adotando, aos poucos, ideias mais abstratas.

Casa particular – idealizada por Theo van Doesburg e Cornelis van Eesteren, em 1923, com inspiração nas obras de Mondrian. (imagem extraída de Site de Adriane Galisteu)
Casa Rietveld Schröder – projetada pelo arquiteto Gerrit Rietveld, em 1924. (imagem extraída de Wikimedia)

Piet acabou se identificando mesmo com o estilo cubista de Pablo Picasso e Georges Braque. Quando se estabeleceu em Nova York, durante a Segunda Guerra Mundial, encontrou inspiração na arte moderna. Testou teorias novas, como o impressionismo e o pós-impressionismo, e fez suas obras alcançarem níveis mais altos, capazes de transcender até mesmo divisões culturais. Participou da fundação da revista ‘De Stijl’ e foi precursor do neoplasticismo. Enfim, tudo que ele criou foi de extrema importância para o aprimoramento das artes, no mundo todo, incluindo a arquitetura. Por isso, é que ele é considerado um dos grandes nomes do século XX.

Imagem do interior da Casa Schröder, um ícone do movimento De Stijl. (imagem extraída de Kari Leppanen Architects)
A família Schröder morou nesta casa até 1985. Agora, ela é um museu aberto para visitas. (imagem extraída de Gerrit Rietveld Schroder House Interior)

+ As características da arte de Mondrian

As primeiras obras de Mondrian retratavam paisagens em cores tristes, acinzentadas. Em seguida, quando ele adotou o cubismo, as cores de suas pinturas eram mais brilhantes. Mas o estilo que o consolidaria seria o abstrato, de estrutura mais simples e marcante, feita de planos e linhas retas, horizontais e verticais, e formas geométricas entre as cores azul, vermelho e amarelo, não encontradas na natureza em seu estado puro – preto e branco só apareciam para dar acabamento às figuras. E em certa fase experimentou também o pontilhismo de Georges Seurat.

Piet levou a arte abstrata às últimas consequências. Expôs, em suas pinceladas, os princípios que estavam por baixo das aparências. Não se limitou em apenas reproduzir aquilo que via, mas em expressar a realidade por traz da realidade. Sua ideia era retratar a harmonia do universo através do equilíbrio das formas. Talvez por causa disso, rechaçava certas estratégias sensoriais empregadas por outros artistas, como texturas, sombreados, degrades, linhas curvas e formas sinuosas.

Casa Olga Baeta – projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas, em 1956, com inspiração nas obras de Mondrian. (imagem extraída de Architectural Papers)

+ A influência de Mondrian nas obras de outros artistas

Desde o lançamento da revista ‘De Stijl’ e do surgimento do movimento neoplasticista, o trabalho de Piet Mondrian passou a exercer influência, sobretudo, no campo das da arquitetura. Como exemplo, temos os desenhos dos arquitetos J. J. P. Oud, Robert Van’t Hoff e Gerrit Thomas Rietveld. Mas, incontestavelmente, ele deixou um enorme legado também em outras áreas. Inúmeras gerações de artistas gráficos, designers, estilistas, fotógrafos, publicitários e engenheiros também se espelharam nele. Suas ideias podem ser vistas refletidas tanto em exemplares do período moderno como também da contemporaneidade. Porém, infelizmente, muitas destas obras são simplesmente cópias dos trabalhos de Mondrian, não levando em conta sequer a sua tão fundamental recusa à imagem.

Prefeitura de Haia, na Holana –  projetada por Richard Meier nos anos 90 e repaginada pela dupla de artistas Madje Vollaers e Pascal Zwart, do Studio VZ, recentemente. A intervenção fez parte das celebrações do centenário do movimento De Stijl, homenageando Piet Mondrian. (imagem extraída de Curbed)

 

Fachada de edifício contemporâneo que utiliza linhas e cores igualmente como vistas nas pinturas de Mondrian. (imagem extraída de Pinterest)

+ As consequências do De Stijl para a arquitetura

As ideias difundidas pelo ‘De Stijl’ – e até mesmo pela Bauhaus, a Escola de Design, Artes Plásticas e Arquitetura da Alemanha – tornaram-se populares bem rapidamente. A visão de futuro, traduzida em uma arte racionalista, baseada na clareza e limpeza das formas, parecia ser a melhor opção para o modernismo. A arquitetura e decoração desenvolvidas por alguns projetistas seguiam o padrão neoplástico. O objetivo era contribuir para uma nova visão econômica e social, mais focada na simplicidade, na integridade, nos processos industriais e na produção em massa, nos novos usos e atividades e nas soluções, que permitissem a abstração como forma de representação.

Um exemplo de arquitetura deste período, desenvolvida a partir da teoria surgida com o neoplasticismo, foram os projetos de Gerrit Rietveld. Em sua própria casa ele utilizou a forma básica do cubo, decomposto pelo jogo de cheios e vazios, resultante do movimento de seus planos estruturais. Não por consciência, os modelos de edifícios projetados por outros artistas também passaram, então, a apresentar elementos verticais marcados pelas cores neutras e primárias, enfatizando quinas e fechamentos de esquadrias. Volumetrias e plantas baixas privilegiavam os espaços abertos, a ventilação e luz naturais, a funcionalidade e outras características defendidas pelo movimento.

 

Cine-café de  l’Aubette, em Estrasburgo, na França – importante exemplar do movimento neoplasticista – no interior do edifício projetado por Francois Blondel, em 1767. (imagem extraída de Austin Cubed)

 

Pavillon Le Corbusier – idealizado por Heidi Weber, na década de sessenta, como museu de arte  dedicado ao trabalho do arquiteto Le Corbusier. (imagem extraída de Wikimedia)

+ Curiosidade

Nas obras de Mondrian o azul, aplicado em movimento horizontal, representava o firmamento e as coisas flexíveis e calmas. O amarelo, na vertical, os raios de luz solar, aquilo que se expande ou se move, o centro do universo. Já o vermelho representava a união – não a mistura – das cores anteriores, o movimento radial da vida, aquilo que não avança, mas paira sobre todas as coisas.

Fontes: Guia da SemanaNexo JornalArquitetando BlogInfo Escola.


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