
A trajetória e os trabalhos de Athos Bulcão, no centenário de seu nascimento
Nascido no Rio de Janeiro, Athos Bulcão fez sucesso com os tradicionais azulejos, mas também foi pintor, desenhista e escultor.Outras sugestões de títulos
Arte e arquitetura: as obras do artista e mestre azulejista Athos Bulcão
As obras de Athos Bulcão em mostra que homenageia o centenário do artista brasileiro
A arte e a arquitetura nas obras de Athos Bulcão
Famoso pela arte com azulejos, conheça mais sobre Athos Bulcão
Conhecido como “artista de Brasília”, amigo de Oscar Niemeyer e Burle Marx, assistente de Candido Portinari, e um dos maiores artistas e azulejistas do país. Este é Athos Bulcão, carioca, nascido em 1918 no Catete e que, de menino tímido se tornou pintor, escultor e desenhista. Suas obras estão espalhadas por diferentes cidades brasileiras, em espaço aberto, e representam a melhor mistura entre arte e arquitetura.

Em 1939, Bulcão desistiu da Medicina, e optou por trabalhar como pintor. Foi nesse período que, com 21 anos de idade, se tornou assistente de Cândido Portinari, com quem trabalhou no mural de São Francisco, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Após cinco anos que havia desistido da Medicina, em 1944, a primeira exposição de Bulcão ocorreu na inauguração da sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), localizado no Rio de Janeiro.

Sua trajetória continuaria e, entre 1948 e 1950, Bulcão estudou desenho e litografia em Paris, após ganhar uma bolsa concedida pelo governo francês. Alguns anos depois, uma parceria de peso seria formada, com a união de arte e arquitetura. Athos Bulcão passou a ser colaborador de Oscar Niemeyer e o primeiro trabalho conjunto foi em 1955, no Rio de Janeiro, no atual Hospital da Lagoa, em um painel externo de azulejos.
A parceria entre Bulcão e Niemeyer ficaria ainda mais consolidada na construção da capital federal. O trabalho do artista e suas obras o levaram a ser chamado de o “artista de Brasília”. Entre alguns dos exemplos, destaque para o trabalho com azulejos da Igrejinha de N. S. de Fátima, do Brasília Palace Hotel e da Torre de TV de Brasília, assim como o painel de pintura da Capela do Palácio da Alvorada e os vitrais do Palácio do Itamaraty.

Athos Bulcão se tornou amigo de Burle Marx e Jorge Amado após apresentação pelo desenhista Carlos Scliar. O “artista de Brasília” era ainda amigo do poeta Murilo Mendes, de Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira, que contribuíram em sua formação e trajetória como artista. Uma característica própria das obras de Athos Bulcão é que podemos ter acesso aos seus trabalhos em espaços públicos, que vão da Universidade de Brasília ao Mercado das Flores, também na capital federal. O objetivo era não restringir o contato com a arte apenas aos ambientes fechados, como em galerias de arte.
A arte de Bulcão
O trabalho de Athos Bulcão está bastante presente na cidade de Brasília, onde trabalhou até sua morte, em 2008, aos 90 anos. Além da capital federal, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador são algumas das cidades brasileiras em que seu trabalho se fez presente, assim como em outros países, como Cabo Verde, Argentina, França e Argélia.
Da influência portuguesa nos azulejos, percebemos que seu trabalho foi bastante intenso e em diferentes áreas. Bulcão é o autor de obras em alto relevo – como a do Teatro Nacional, também em Brasília – além de fotomontagens, esculturas, pinturas, ilustrações em capas de revistas, livros e discos – incluindo de Vinícius de Moraes. Athos também se destacou na criação de figurino para teatro, o que demonstra seu trabalho multifacetado.

O Carnaval foi um dos temas retratados em suas obras, e o trabalho com as cores, em suas pinturas, foi sempre bem pensado, como há o destaque em exposição do CCBB em homenagem ao centenário do artista, com a frase de Athos: “Eu gosto de pintar deixando uma cor por trás da outra, criando uma coisa meio misteriosa. O Portinari ensinava muito, me ajudou a entender os quadros, a analisar como os quadros eram feitos”.
A arquitetura e a arte
A relação entre a arte e a arquitetura é bastante estreita nas obras de Athos Bulcão, pois com sua arte o concreto e as formas das construções são destacadas. Suas obras não têm nomes próprios, mas sim os nomes das localidades em que estão inseridas, novamente com o destaque voltado ao espaço ocupado.

Outra característica própria do trabalho de Bulcão era que, inicialmente, os azulejos eram colocados com as indicações detalhadas do artista. Mas posteriormente, a responsabilidade e o modo de colocação passou a ser de acordo com os próprios trabalhadores que faziam o assentamento dos azulejos.
Há um espaço reservado na exposição sobre o trabalho desenvolvido pelo artista em conjunto com os trabalhadores da construção civil. Na exposição do CCBB em São Paulo, destaque para a fala de Athos Bulcão a respeito das obras, relacionadas às edificações: “O primeiro cuidado é não parecer que o prédio foi feito para ficar com aquela decoração na frente. É preciso sentir que aquilo é muito necessário, no que se refere à conclusão do projeto, evitar que pareça um ornamento gratuito, do tipo ‘vou lá e vou enfeitar’.

A homenagem por seu legado e pelo centenário de seu nascimento chegou até mesmo ao doodle do Google, em julho deste ano. Athos faleceu em 2008 de parada cardio-respiratória, mas já enfrentava o Mal de Parkinson desde 1991, quando iniciou tratamento no Hospital Sarah Kubitscheck, em Brasília – local que também conta com obras do artista.

A divulgação e a preservação das obras do artista são realizadas pela Fundação Athos Bulcão, fundada em 1992, em Brasília. O trabalho é voltado para a conservação, pesquisa e investigação acerca do trabalho do artista, para fins educacionais e de preservação do patrimônio cultural.
Exposições das obras
No ano em que é comemorado seu centenário, diferentes exposições no país trazem as influências e o legado do artista. No Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a mostra “100 Anos de Athos Bulcão” trouxe, até este dia 15 de outubro, 300 obras do carioca, incluindo trabalhos inéditos. É possível conhecer o projeto e os esboços iniciais do artista e, logo ao lado, o resultado final, seja dos azulejos ou pinturas.

A mostra ainda traz exemplos de obras de outros artistas, inspiradas no trabalho de Athos Bulcão, no núcleo “Rastros”. A exposição já passou também pelo CCBB de Brasília e Belo Horizonte, e agora segue para o Rio de Janeiro, com estreia no dia 7 de novembro, com curadoria de Marília Panitz e André Severo.

Um dos desafios da mostra é apontado por André Severo, em matéria da Época: “A proposta de nossa curadoria foi destacar como ele [Athos Bulcão] investigou diferentes poéticas e como cada uma influencia a outra. Ele trabalhava simultaneamente em diferentes suportes, por isso é difícil falar em fases distintas como acontece com outros artistas. A constante complementaridade entre linguagens já desmonta essa perspectiva cronológica”.

Seja na mostra, ou em visita às cidades e locais onde se encontra o trabalho de Bulcão, conhecer suas obras nos traz a história do país, bem como da arte e arquitetura, de maneira entrelaçada.
“Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um privilégio: ser pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral”. Athos Bulcão
Referências: Fundação Athos Bulcão, El País, Época, Huffpost Brasil, Nexo Jornal