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Série de iniciativas coloca o Vidigal no mapa da arquitetura e da sustentabilidade

Para inspirar! O curador e arquiteto Carlos Augusto Graciano conversou com o Blog da Arquitetura sobre o poder transformador da iniciativa.

Arquitetura, arte e agricultura estão reunidas no Vidigal, comunidade localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Em agosto de 2014, a região ganhou dois monumentos vivos: o Telhado Orgânico Medicinal e a Galeria Viva. O primeiro foi instalado sobre o ponto das kombis, o transporte alternativo no Vidigal. Já a Galeria Viva é um paredão de 50 metros de uma das escolas públicas locais, e que recebeu a contribuição de diferentes artistas, que grafitaram o espaço.

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Imagem: Aluízio Peçanha

Tudo foi desenvolvido sem investimento público, como iniciativa de estudantes de escolas públicas, proprietários de veículos de transporte alternativo, moradores reunidos em associação local e curadores artísticos, que inclui o arquiteto Carlos Augusto Graciano, o Guto, e Graça dos Prazeres, a chef que desenvolve projetos na comunidade para estimular a alimentação saudável, e que cuidou da horta medicinal local, com ervas cultivadas sobre o ponto e com o uso de adubos de substratos naturais.

Guto explica como foi o início do projeto: “o que iria ser um simples telhado verde, passou a ser um telhado medicinal devido ao trabalho da Chef de culinária orgânica viva Graça dos Prazeres que recomendou que a horta fosse composta por hortaliças medicinais verdadeiramente orgânicas, que suportassem o sol e fossem regadas apenas com a água das chuvas”, informa. E o aspecto cultural fica por conta da Galeria Viva que, segundo ele, “nasceu onde os pilares da sustentação do jardim suspenso são condições ao espaço de galeria ilustrativa”.

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Imagem: Rio On Watch

O telhado é sustentável e inteligente, pois pode ser mantido mesmo em condições de escassez de água. Com o telhado, o objetivo é estimular o interesse pela alimentação saudável e também pela criação de outras iniciativas semelhantes, como a criação de telhados suspensos em diferentes locais.

Já a Galeria Viva foi apresentada um ano após o início da intervenção, correspondendo a um “marco de resiliência do Vidigal”, ou seja, de adaptação às condições atuais, em um período em que a comunidade completava 75 anos, no ano de 2015.

Transformação Social e Reconhecimento

A cooperação entre vizinhos a amigos da comunidade, além da união entre diferentes aspectos na promoção de uma revolução cultural, que inclui a arte visual do grafite e a arte sonora, são alguns dos exemplos que tornam este projeto um destaque como transformador social.

“O projeto legitima propriedade artísticas para manter a história e a cultura do local vivas, com releituras dos dias atuais, em cenas expostas na Galeria Viva, a qual possui uma cobertura (jardim educativo) com a característica do Vidigal. Sendo assim, a galeria ecológica a céu aberto possui, além de atributos de sustentabilidade, ações educativas que transmitem aos moradores e turistas os modos de vida do local, artisticamente reproduzidos com um conjunto de cuidados protecionistas que reavivam a cultura própria do Vidigal”, afirma Guto, sobre o caráter social da iniciativa.

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Imagem: Henrique Madeira Photo

Mais do que apenas uma galeria sustentável e artística, a iniciativa é um forma de promover mudanças, fazendo dos populares e moradores, os atores no desenvolvimento de ações no espaço público. O projeto é reconhecido como uma “plataforma de reparação social”, uma oportunidade para a classe social desfavorecida “mostrar a sua cara”.

O projeto foi bem recebido pelos moradores locais e já está direcionado a ser declarado patrimônio cultural urbano de natureza imaterial da cidade, através do Projeto de Lei 1583/2015, que está em fase de tramitação na Câmara há um ano, o que tem chamado a atenção da comunidade, pelo longo tempo sem aprovação. O projeto já recebeu parecer pela constitucionalidade da Comissão de Justiça e Redação, mas ainda aguarda a análise de outras comissões.

Os resultados e desafios

E o reconhecimento não está apenas relacionado ao Projeto de Lei citado. Os próprios moradores têm percebido as mudanças e estão fazendo parte delas. “O fato tem incentivado encontros com rodas de conversas de pessoas idosas para contar histórias sobre a localidade, em que os mais novos de idade e os novos moradores também participam”, afirma Guto, sobre o projeto.

Outra mudança destacada pelo arquiteto é que o projeto “faz gradativamente o Vidigal refletir sobre alimentação saudável, sustentabilidade e bem-estar, ao mesmo tempo que proporciona conforto térmico e a recomposição ambiental do espaço”.

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Imagem: Carlos Moraes / Agência O Globo

Sem dúvidas, do ponto de vista arquitetônico, pensando também na sustentabilidade, no aspecto cultural e na transformação social na comunidade, assim como na promoção constante da igualdade social, o projeto é fundamental. Novos resultados já estão acontecendo, pois a proposta pode ser levada a outras cidades e comunidades, como em Niterói, a partir de uma iniciativa de estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF). “As ações são de grande importância para manter a chama acesa, com a renovação das cenas (atualização) e também as atividades (ação social) ligadas à área da medicina alternativa”.

E você, conhece projetos semelhantes nas comunidades? O que achou deste e como é possível promover que novas iniciativas se espalhem pelo país? Compartilhe sua opinião e experiência aqui no Blog da Arquitetura!

 

Referências: Watch on Rio, Extra, Brasil 247

Além dos curadores citados, e também da Associação dos Moradores do Vidigal e dos proprietários das kombis, o projeto contou com a colaboração da pedagoga Bárbara Nascimento; do professor Paulo Cypa; do jornalita Dan Delmiro; dos MCs Flip / MK / TG / VINCI / TOM; dos compositores Marquinho do 14 e Marcão e dos artistas LUIZ SK / Vinícius Revolução / Malac Abreu.