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Qual o papel das viagens culturais para o arquiteto e urbanista?

“Arquitetura é coisa para ser vivida”, já dizia o arquiteto Lúcio Costa. No dia a dia, o arquiteto e urbanista pode trabalhar recluso em seu escritório e monitorar apenas as construções em endereços de sua cidade, mas, eventualmente, ele pode ter a sorte de participar de projetos em regiões mais distantes. Enquanto a obra estiver em andamento, sempre haverá a necessidade do profissional se deslocar até o endereço. Fora isso, viajar por conta própria será uma experiência fundamental. Todo artista precisa alimentar, de alguma forma, sua criatividade. E qual melhor a ferramenta para instigar as ideias do que viajar?

+ Então, o arquiteto precisa mesmo viajar?

Esta é uma das perguntas mais frequentes entre os estudantes universitários. E a resposta é sim, arquitetos devem, quando possível, realizar viagens culturais. Arquitetura é uma profissão que envolve, entre outras coisas, a criação de soluções inovadoras para problemas reais da sociedade. Só que, na maior parte do tempo, o profissional fica preso a tarefas nada inspiradoras, como quando ele lida com questões burocráticas. Viajar seria, portanto, uma boa maneira de adquirir mais habilidades e experiências, fora do que se pode aprender no cotidiano do escritório.

Buscar inspiração e conhecimento sobre arquitetura – sobre como se fazer arquitetura – viajando, não é uma experiência nova. Pelo contrário. No período renascentista, por exemplo, os artistas eram incentivados a fazerem isso como complemento de seus estudos. No modernismo, grandes mestres, como Le Corbusier, registraram as ideias mais revolucionárias, em esboços e anotações, justamente enquanto realizavam suas viagens. E isso não foi o resultado apenas da observação de edifícios e lugares famosos. Quem projeta e constrói espaços deve estar atento, mesmo, é nas pessoas. É explorando novas culturas, costumes e hábitos que é possível se obter mais conhecimento de mundo, mais conhecimento de vida. Afinal, arquitetura, sociologia e antropologia são ciências interligadas.

 

+ E quais os benefícios das viagens para o arquiteto?

Viajar agrega cultura!

Para o arquiteto viajar é mais do que uma boa aventura, é a oportunidade de viver a arquitetura, de senti-la, de tocá-la. É um meio de se relacionar com todas as formas de exercê-la. De se colocar na posição de investigador. De praticar seu olhar crítico. De refletir sobre a história. Viajando para outros lugares, o artista pode conhecer culturas diferentes, pensamentos diferentes, jeitos diferentes de estruturar as cidades e as paisagens naturais, colocando a prova todos os seus conceitos e questionando limites que ele nem sabia que existiam.

“A arquitetura possui um poder de transformar (mesmo que em detalhes) o homem, e assim o homem modificado pode aprimorar a arquitetura” – filósofo Allain de Botton, na obra ‘Arquitetura da Felicidade’.

Abrindo essa “porta para o mundo”, o arquiteto jamais voltará a pensar como antes. O novo não é sempre melhor, mas ensina. Por isso, o projetista passará a ver melhor os detalhes; a pensar de forma mais abrangente, sustentável e econômica o seu projeto; a optar por materiais e técnicas não convencionais; e querer ultrapassar os limites do entendimento, aceitando novos desafios construtivos. É viajando que o arquiteto perceberá o quanto insignificante ele é diante das infinitas possibilidades no universo. Ele saberá respeitar mais esse “todo”, sabendo que tudo está conectado entre si.

+ É aconselhável começar a viajar já durante a faculdade?

Viajar ensina mais rápido do que qualquer sala de aula!

Durante o curso de arquitetura e urbanismo, é comum os professores tentarem organizar viagens cultuais por outras cidades e regiões do país, ou até fora dele. Passeios durante a graduação funcionam como uma pesquisa de campo, estimulando o aprendizado dos alunos através da prática – ajudando, inclusive, a melhorar o desenvolvimento dos seus currículos. O objetivo disso seria ressaltar a importância de sua participação na sociedade, fornecendo-lhe um entendimento mais amplo sobre todas as questões que envolvem a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo.

O roteiro de viagens deve ser elaborado de acordo com o plano de ensino acadêmico da instituição, com o período discente e com a identidade do curso – que é diferente da Engenharia Civil ou do Design de Interiores, por exemplo.

+ O que observar durante uma viagem cultural?

A beleza deve ser percebida na diversidade, nas peculiaridades!

Em termos de arquitetura, o viajante deve observar todas as ruas, quadras, praças, parques, edifícios e outros espaços construídos, como um todo, e também individualmente. Deve tentar compreender a estrutura das cidades, a forma como se ordenam, como se organizam; e quais as influências que as sociedades têm sobre elas. Ele deve observar como conceitos que ele aprendeu em sala de aula – como monumentalidade, escala, proporção, dinâmica e mais – são empregados na vida real. A aprendizagem se completará com a percepção das diferentes cores, formas, tipologias, estilos, acabamentos e disposições ao seu redor. Este conjunto é chamado de repertório.

+ Conclusão

Toda viagem é sempre benéfica, e não só para o arquiteto como para qualquer pessoa. Só que para tirar bons proveitos dessa experiência, é preciso sair de malas prontas e de cabeça aberta, ou seja, sem preconceitos. A diferença do profissional especialista em arquitetura é que ele também deve passear pelas cidades com os “olhos de arquiteto”. Por isso, é mais indicado que ele fuja de lugares menos culturais, como os shoppings centers, e aproveite mais os museus, igrejas, teatros e outros monumentos e marcos históricos.

Aquele que não tiver condições financeiras de viajar, não tem problema. Livros são uma ótima fonte de se adquirir cultura, bem mais econômicos e não menos eficazes. Depois, também há as informações disponíveis online, em diversas plataformas e redes sociais, como o Google Maps e o Instagram. Com apenas um clique pode-se ver o mundo de longe. A vantagem de olhar, antecipadamente, as imagens planas dos lugares que se deseja conhecer é que, depois, a emoção de experimentar tudo com seus próprios olhos será maior.

Fontes: AarquitetaObvious Mag. Fotos: Pixabay.


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