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Projeto ousado prevê cidade binacional entre EUA e México

Infelizmente, o sofrimento nos ensina. Diante de crises econômicas, sociais e ambientais extremas, a necessidade de se construir um futuro que permita a continuidade da raça humana neste planeta pode ser a melhor oportunidade para a união definitiva entre as nações. Fronteiras entre países podem ser pontos de desenvolvimento de novas culturas, tradições e parcerias comerciais, como também de conflitos e disputas territoriais.

Existe no mundo, hoje, vários lugares onde as fronteiras simbolizam integração e desenvolvimento, como são os casos de Foz do Iguaçu e Chui, no Brasil. Nestes exemplos, o fortalecimento das relações com os irmãos se deve às ações para o desenvolvimento regional unificado. No entanto, quando sistemas legais adotados por países vizinhos são muito contraditórios, os problemas entre cidades binacionais tornam-se inevitáveis. Mas, os Estados Unidos e o México vem discutindo fortemente essa questão, já que problemas de jurisprudência urbanística são constantes.

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Fronteira Estados Unidos – México. (imagem extraída de Wonderlane em flickr)

+ Fronteira Estados Unidos – México

Agora, em 2016, os americanos estão prestes a eleger um novo presidente. E um dos itens mais discutidos entre os candidatos é a imigração. Estados Unidos e México fazem fronteira em uma extensão territorial de mais de três mil quilômetros. Suas estradas são as mais frequentemente cruzadas no mundo, sendo trezentos e cinquenta mil pessoas legalmente ao ano. Mas são os imigrantes ilegais que preocupam.

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Placa afixada em uma das fronteiras internacionais, dentro do território americano, alertando as consequências da imigração ilegal. (imagem extraída de Wikipedia)
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Cidades-fronteira entre EUA e México. Na imagem estão Tijuana e San Diego. (imagem extraída de Wikipedia)

A linha que separa esses dois países atravessa grandes áreas urbanas, desertos, montanhas e rios. Alguns políticos acreditam que, para evitar a travessia de ilegais pela fronteira, a única alternativa seja a construção de uma grande parede divisória. Mas, como existe um relacionamento e dependência mútua das economias e comércios, outros pensam em estabelecer mais elos entre as nações vizinhas. E o planejamento urbano pode ser a resposta.

+ Cidades binacionais

Acreditando que ações de reconhecimento legal podem dar certo, entre áreas binacionais conturbadas, certas entidades, como a ONU-Habitat, apresentam todos os anos novos programas para assentamentos humanos. Embarcando nessa ideia, urbanistas estão criando propostas para melhorar as condições de vida dos cidadãos residentes em áreas de fronteiras. Um bom exemplo é a proposta apresentada pelo arquiteto Fernando Romero, na Bienal de Design 2016, em Londres.

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Arquiteto e Urbanista Fernando Romero ao lado de uma ilustração de seu plano para uma cidade binacional. (imagem extraída de Design Boom)

A ideia de Romero prevê um modelo para metrópoles com dupla nacionalidade. Ou seja, desenvolvendo-se em ambos os lados da fronteira de maneira unificada. O esquema poderia ser replicado em todo o mundo, visando a criação de cidades integradas e sustentáveis, que cresceriam com as boas trocas comerciais e de migração. O planejamento urbano antecipado evitaria a expansão do tráfico de drogas, da desordem urbana, da pobreza e da imigração ilegal.

Existem outros exemplos internacionais como esse, onde fronteiras são conciliadas devido a diferentes narrativas. Cocobeah, entre Gabão e Guiné Equatorial, por exemplo, funciona exatamente assim, como cidade binacional. Os dois países dividem seu fluxo econômico, baseado na pesca e na extração de madeira. Isso é a prova de que a ideia pode dar certo.

+ Free City

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Esse protótipo de masterplan, projetado por Romero, segue um plano de crescimento hexagonal, atravessado pela linha de fronteira entre países. (imagem extraída de Quartz)

Fernando Romero estudou a movimentação entre Estados Unidos e México. Junto de clientes privados, proprietários de terras entre os estados do Novo México e Chihuahua, o urbanista idealizou algo totalmente único, o que para muitos soa como utopia. Seria uma cidade binacional com alto nível de integração e cooperação, em região perto de El Paso-Juárez e do porto fluvial de Santa Teresa, um centro de logística e manufatura.

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Ilustração, em perspectiva, de como seria a paisagem dessa cidade após o seu desenvolvimento, seguindo as diretrizes de planejamento urbano. (imagem extraída de Design Boom)

Prevista para ser desenvolvida num período de aproximadamente uma década, a nova cidade binacional, mexicano-americana, manteria uma zona especial de governança própria. As barreiras primitivas seriam substituídas por um comércio livre e por uma partilha de cultura e transporte público. Trabalhadores dessa cidade poderiam circular para ambos os lados, sem enfrentar as longas filas dos postos de fronteira. É um plano pensado para fornecer muito mais oportunidades de emprego, ensino, pesquisa e desenvolvimento.

+ O masterplan hexagonal

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Proposta de Fernando Romero para cidade binacional entre Estados Unidos e México. A linha vermelha sinaliza a zona de fronteira. (imagem extraída de Quartz)

A proposta de zoneamento para essa cidade binacional consiste em um plano diretor bem integrado e propício para ambos os lados da fronteira. O urbanista projetou seu parcelamento de solo, incluindo as redes cicloviária, ferroviária e rodoviária, principalmente para transporte de mercadorias. Já o transporte público contaria com metrobuses e trens expressos. Tudo isso contrasta bastante com os atuais pontos de vista e práticas anti-imigração, aplicadas principalmente pelos Estados Unidos.

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Diagrama conceitual explicando o parcelamento de solo conforme o plano de crescimento hexagonal. (imagem extraída de Design Boom)
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Desenho esquemático mostrando o planejamento conforme a distribuição de áreas e atividades, como zonas residenciais e comerciais. (imagem extraída de Design Boom)

Para seu crescimento sistemático, a grade hexagonal cobriria toda a área, atravessando inclusive a linha de fronteira entre países. Ao invés de divisão, haveria a ligação entre as porções americanas e mexicanas da cidade. As avenidas irradiariam a partir de centros e epicentros, que conteriam serviços médicos, culturais, comerciais e industriais. O restante seria preenchido pelas ruas residenciais. A população cresceria, aumentaria a migração, assim como a massa edificada. E o masterplan se repetiria conforme houvesse a necessidade de expansão territorial.

Então, o que você achou dessa ideia? Acredita que funcionaria?

Veja, no vídeo logo abaixo, mais detalhes da apresentação desse projeto na Bienal de Design:

 

Fontes: Fr.eeInhabitatArch DailyThe City Fix Brasil.