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Peter Behrens: a arte e a estética na produção industrial

Até pouco antes da chegada do século vinte, era comum pensar que bens de consumo, produzidos industrialmente em larga escala, pudessem apresentar qualquer harmonia entre forma e função. O pensamento acadêmico, até então, era de que a estética tornava-se quase irrelevante. Isto fez diminuir o número de peças criadas de forma individual por artesãos. Mas, na década de 1890, em pleno período conhecido como Belle Époque, alguns artistas reagiram a isto. Muitos foram incentivados por um estilo que estava se popularizando na Europa e que viria mudar o pensamento da sociedade, o Art Nouveau. Este estilo internacional marcou a transição das artes decorativas aplicadas à indústria. E é impossível falar deste tempo sem citar o pai do racionalismo produtivo e da arquitetura industrial, Peter Behrens.

Peter foi considerado um dos pioneiros do modernismo e sua tipologia foi imitada por outros profissionais.
Peter foi considerado um dos pioneiros do modernismo e sua tipologia foi imitada por outros profissionais.

+ Um legado para a arquitetura

O alemão Peter Behrens era pintor, ilustrador e autodidata em arquitetura. É considerado por muitos como o primeiro designer, pois foi através do seu trabalho que se originou a cultura de identidade corporativa.  Peter desenvolveu o desenho industrial sem se prender às questões históricas, mas às necessidades desta nova sociedade. Ele explorou diferentes técnicas construtivas, materialidades e fez uma arquitetura planejada, encaminhando-se para o que seria o modernismo.

Behrens foi uma inspiração para muitos designers e arquitetos. Dentre os seus seguidores estão os bem conhecidos Le Corbusier, Walter Gropius e Mies van der Rohe, que trabalharam em seu estúdio por volta de 1910. Distanciando-se, pouco-a-pouco, dos excessos decorativos, Peter ajudou, de certo modo, no desenvolvimento do International Style. Em particular, inspirou a criação de obras como a dos arranha-céus e da Escola de Chicago, um tipo de sistema de construção para o desenvolvimento de cidades.

Cartaz conhecido como 'O beijo', de 1900, mostracabelo estilizado e linhas curvilíneas, próprio do Art Nouveau.
Cartaz conhecido como ‘O beijo’, de 1900, mostra um desenho estilizado e linhas curvilíneas, próprios do Art Nouveau.

+ Peter Behrens e as artes decorativas

No ano de 1899, Peter Behrens foi convidado pelo arquiteto Joseph M. Olbrich para participar da criação de uma espécie de colônia para artistas, uma encomenda feita por um dos netos da rainha Victoria. Este projeto tornou-se um protótipo para um novo conceito de habitação. E foi neste período que Behrens fez a sua primeira obra em arquitetura, a sua própria moradia.

Peter Behrens construiu uma das sete residências na colônia para artistas idealizada pelo arquiteto Joseph M. Olbrich.
Peter Behrens construiu uma das sete residências na colônia para artistas idealizada pelo arquiteto Joseph M. Olbrich.
Peter projetou sua residência e cuidou também do seu design de interiores.
Peter projetou sua residência e cuidou também do seu design de interiores.

Peter cuidou especialmente de cada detalhe da casa. Ele planejou desde as grandes janelas, que levariam luz abundante aos interiores, até a mobília e os objetos decorativos. Algumas das peças são, até hoje, muito admiradas, como o conjunto de cadeiras para a sala de jantar. Mas Behrens também criou luminárias, poltronas, piano e muitas outras coisas. Ele seguia o pensamento de que os objetos domésticos não deveriam levar em conta somente a estética ou somente a funcionalidade, mas os dois. Peter Behrens realmente acreditava que tudo poderia ter beleza, feito à mão ou à máquina.  A ideia não era mascarar a fabricação adicionando a decoração, mas encontrar formas que representassem o novo caráter da tecnologia.

Além de louças, Peter projetou ventoinhas elétricas, chaleiras elétricas, candeeiros e tantos outros objetos.
Além de louças, Peter projetou ventoinhas elétricas, chaleiras elétricas, candeeiros e tantos outros objetos.

+ Os projetos para a AEG

Peter Behrens tinha muita afinidade com o que chamamos hoje de design gráfico. Ele trabalhou como tipógrafo em Munique por volta de 1890. Chegou a participar do United Workshops for Art and Craft . Mas admirava as linhas fluidas das ilustrações dos cartazes do Art Nouveau. E publicou, em 1907, o Art in Technology, um texto referência para projetos integrando forma e função. Neste mesmo ano, Peter juntou-se a outros artistas na criação da organização Deutscher Werkbund, que visava competir com o movimento inglês Arts and Crafts e melhorar o design e a indústria alemã.

Chaleira projetada por Peter Behrens, em 1909, com o corpo octogonal lembrando um telhado ou uma turbina.
Chaleira projetada por Peter Behrens, em 1909, com o corpo octogonal lembrando um telhado ou uma turbina.

Justamente por conseguir enxergar o design em todas as suas dimensões que Peter Behrens foi convidado pela família Rathenau, em 1907, para ser colaborador na indústria de eletrônica AEG – Allgemeine Elektricitäts Gesellschafft. Ele mudou-se para Berlim com a função de aumentar o rendimento da empresa, desenvolvendo métodos melhores de fabricação, de organização de trabalho e produtos mais competitivos para o mercado. Peter trabalhou para a AEG em projetos de design, de comunicação visual, de grafia e arquitetura. Foi uma verdadeira união entre arte e indústria.

Além da arquitetura do edifício, Peter recriou o logotipo da empresa, fez toda a identidade corporativa, a arte gráfica, publicitária e ainda trabalhou o design de produto industrial.
Além da arquitetura do edifício, Peter recriou o logotipo da empresa, fez toda a identidade corporativa, a arte gráfica, publicitária e ainda trabalhou o design de produto industrial.

Para a fábrica de turbinas e materiais elétricos da AEG, Peter Behrens projetou um edifício que se tornou, em 1909, a nova expressão da arquitetura europeia. Esta obra-prima foi o primeiro edifício em aço e vidro da Alemanha. No projeto, Peter evitou preceitos tradicionais e usou uma abordagem diferente, suprindo todas as necessidades estéticas, espaciais e funcionais. A estrutura, com enormes janelas e empenas sólidas, lembra um templo clássico. Behrens provou, então, que uma edificação industrial também pode ser monumental e ter uma ligação com a arquitetura do passado.

Os projetos desenvolvidos por Peter Behrens, principalmente para a AEG, são, até hoje, ícones da arquitetura, do design, da decoração e da publicidade. Seu reconhecimento foi provado com o convite, em 1922, para lecionar na Academy of Fine Arts, em Viena. Também através dos inúmeros projetos desenvolvidos, posteriormente, por artistas inspirados em seu trabalho. Mas, infelizmente, na década de 1930, Peter foi associado ao nazismo e morreu em 1940 com sua imagem ligada às fantasias de Adolf Hitler para Berlim.

Fontes: AEG, Arch DailyDesign is History