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Papo sério: como a arquitetura pode ajudar refugiados e imigrantes

A disputa de fronteiras internacionais tem gerado impasses entre nações há milênios. Existem muitas questões bastante complexas envolvidas nessas batalhas, travadas durante a história. Geralmente, é a questão cultural que mais pesa contra aqueles que buscam refúgio longe do caos. Infelizmente, a maioria das pessoas dão as costas para os problemas envolvendo as imigrações. E qualquer ajuda, nesse momento, seria muito bem-vinda.

Interessante é que, após a II Guerra Mundial, Estados do mundo todo selaram um acordo de paz. A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que todo indivíduo do planeta tem o direito de migrar livremente e pedir asilo político. Não é ilegal, é direito. Só que, com as questões fiscais envolvidas, muitos países soberanos fecharam as portas. Claro que, teoricamente, nenhum estrangeiro é obrigado a aceitar imigrantes em seu território. Mas, onde fica o papel humanitário? Será que a arquitetura poderia ajudar nessa situação?

(imagem extraída de Revista Será)

+ A triste realidade para os imigrantes

Há três tipos de imigrantes, o refugiado climático, o refugiado econômico e o refugiado político. Independente das diferenças, todos estão em contextos muito difíceis. São nômades, vivendo em condições precárias, longe da vida que, em tese, é oferecida pelos órgãos internacionais. Não há como fingir. Os governos precisarão aprender a colaborar, de forma eficaz, para amenizar as crises. Precisarão colocar as ambições econômicas para segundo plano e permitir a evolução das sociedades, com base na integração entre diferentes povos e culturas.

(imagem extraída de O Rosário)

Enquanto os líderes mundiais não chegam a um consenso, milhões de pessoas estão, neste momento, desabrigadas, desamparadas, vagando sem rumo e sem saber do seu destino. Muitos fogem da fome, da pobreza, da opressão e acabam sujeitas às condições mais precárias, em benefício da sobrevivência. E a situação não melhora nos assentamentos. A maioria dessas aglomerações urbanas foi construída para uso temporário. Suas infraestruturas não foram planejadas para suportar um período tão longo. Por isso tem havido tantos debates entre profissionais sobre direitos humanos, arquitetura & urbanismo a longo prazo.

(imagem extraída de Arch Daily)

+ O futuro da arquitetura

Refugiados não deveriam ter de “bater às portas” dos outros países para implorar por dignidade, mas acontece. O fato dessas pessoas não terem perspectiva de onde se abrigarem pode ocasionar um problema urbano muito sério. E é nesse ponto que a arquitetura pode ajudar. Apesar de alguns países não permitirem a construção de campos de refugiados, a crise migratória abre chance à inovação urbana. Não faltam desafios.

Acampamentos para imigrantes costumam apresentar uma alta densidade populacional, pouco espaço, distribuição de recursos limitada, muitos conflitos, carências e mais. Na verdade, eles deveriam responder melhor às necessidades dos seus habitantes. Não importa se são econômicos e de fácil construção, se não incluírem o mínimo de infraestrutura. Esses locais devem, também, transmitir aos seus usuários a sensação de proteção e acolhimento. Só assim acreditarão que estão prontos para reconstruírem suas vidas.

+ Soluções emergenciais

Reunimos, abaixo, alguns exemplos de arquitetura temporária e emergencial, de diferentes escalas, que respondem algumas das questões mais complexas envolvendo imigrações.  

Projetos ‘Better Shelter’ e ‘Kokoon’ (imagens extraídas de Metalocus e Arch Daily)

Better Shelter

Unidades habitacionais, projetadas e distribuídas globalmente em caixas de papelão, através da Fundação IKEA. Elas são feitas em painéis de polímeros, com estrutura em aço, isolamento térmico e painéis solares. Os interiores apresentam um mobiliário composto por itens da própria empresa, reproduzindo um lar. São unidades modulares, muito simples de construir – estima-se que possam ser montadas em apenas quatro horas – e se adaptam bem a diferentes arranjos familiares.

Kokoon

Protótipo de moradia, criado por estudantes de arquitetura da Finlândia. Pode ser montado em apenas vinte e quatro horas. Tem trinta e cinco metros quadrados, divididos em três módulos pré-fabricados em madeira, com três metros de altura cada.

Habitações ‘Binishell’ e ‘Pallet Home Project’ (imagens extraídas de Rebloggy e Elgin)

Técnica Binishell

Trata-se de um tipo de habitação de baixo custo, próprio para arquitetura emergencial. Foi projetado na década de sessenta, pelo arquiteto Dante Bini. Os abrigos são bastante adequados quanto ao ponto de vista ambiental e humanitário. Sua estrutura é muito resistente, principalmente contra desastres naturais, feita a partir de balões inflados que servem como fôrmas. 

Pallet Home Project

Projeto muito inovador que utiliza pallets de madeira reciclados para a construção de modelos simples de moradia para refugiados. É uma solução econômica, sustentável e muito versátil. Cada família pode adaptar, a seu modo, de acordo com suas necessidades.

‘Casa de Borboletas’ (imagem extraída de Arq Provisória)
Escola ‘Projeto Rebuild’ (imagem extraída de WDO)

Casa de Borboletas

Projeto do escritório TYIN, trata-se de pequenas casinhas em bambu – um material considerável sustentável; construídas com intenção de ajudar órfãos de guerra da região de Mianmar, na Birmânia. Cada unidade desse orfanato sustentável pode abrigar até trinta crianças. Seu estilo de arquitetura combina bem com as demais construções já existentes na região. O destaque desses modelos é a possibilidade da ventilação cruzada.

Projeto Rebuild

Idealizado pelos arquitetos Pouya Khazaeli e Cameron Sinclair, esse projeto prevê a construção de escolas em campos de refugiados, como Zaatari, na Jordânia. Elas são erguidas com painéis feitos de andaimes e telas metálicas, preenchidos com cascalho, areia ou terra. Os interiores são confortáveis, respondendo bem às necessidades das crianças.

Escola de Hualin e ‘Lilypad’ (imagens extraídas de Pinterest e Arch Daily)

Escola de Hualin

Projetada pelo renomado arquiteto Shigeru Ban, essa escola temporária em papelão foi construída em uma área carente da cidade de Hualin, na China. Seus alunos são vítimas de guerra, que moram em abrigos temporários para refugiados. Esse é, justamente, um dos propósitos do trabalho desse profissional, contribuir para àqueles mais necessitados, que precisam de atenção e boas soluções emergenciais.

Lilypad

Lilypad é uma cidade-ilha ou cidade-anfíbio autossustentável, projetada pelo arquiteto Vincent Callebaut. Inspirado pelas belas formas das vitórias-régias, o profissional idealizou um alojamento para refugiados climáticos, capaz de acomodar até cinquenta mil pessoas. Essa construção aquática teria sua própria biodiversidade, desenvolvida ao redor de uma lagoa central, nutrida por água coletada das chuvas.

Unidade da ‘The Maggie Program’ e ilustração gráfica de ‘Weaving A Home’ (imagens extraídas de Arquitete suas ideias e Abee Seikaly)

The Maggie Program

Utilizada na construção de escolas, postos de saúde e centros comunitários, essa estrutura pode abrigar até sessenta pessoas. Construída com materiais de baixo custo, como plástico e areia, visa à praticidade. Esse modelo de abrigo é apenas um dos muitos projetos inovadores da empresa belga DMOA.

Weaving A Home

Esse abrigo foi projetado por Abeer Seikaly. Apresenta uma estrutura desmontável de alta resistência, feita através de material têxtil em membrana elástica e tubos de plástico. Adapta-se bem a diferentes tipos de clima, de famílias e necessidades.

FontesHometeka, ImedArch Daily, DW.


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