
O texto definitivo para entender gentrificação e sua relação com o urbanismo
Em muitas cidades latino-americanas, as periferias costumam se formar de maneira não planejada, em zonas afastadas, desvalorizadas e sem infraestrutura básica. A expansão descontrolada dessas áreas pode gerar problemas graves, como o aumento da violência, da pobreza, da degradação ambiental, entre outros. Descontentes com essa situação, alguns políticos apelam para medidas extremas, como as remoções forçadas, para dar espaço à construção de um bairro ou empreendimento destinado àqueles com maior poder aquisitivo.
Essa reação tornou-se agressiva nas últimas décadas. A tal gentrificação tem a ver com um complexo processo de relações entre consumo e produção, baseado na especulação imobiliária, que deveria visar somente a modernização ou a revitalização dos espaços. Só que, em muitos casos, a população mais pobre é “convidada” a emigrar para outras regiões. Ela passa, então, a habitar outras localidades, ainda mais periféricas, ainda mais carentes. Essa segregação urbana apenas destaca a desigualdade da sociedade, sem, de fato, resolver qualquer um de seus problemas.

+ O que é gentrificação?
Gentrificação é um termo que surgiu no Reino Unido durante a década de 1960. Ele faz relação com o trabalho da socióloga Ruth Glass. Define o processo de transformação imobiliária ocorrida em uma determinada área de uma cidade. Uma espécie de aburguesamento do espaço geográfico. Uma reorganização urbana e espacial. Um fenômeno que é visto por muitos especialistas como um problema, mas por outros como um meio de renovação ou revitalização das cidades.
“É extremamente raro e não é tão ruim para os pobres quanto parece” – escritor John Buntin, para a Revista Slate.
Alguns estudiosos acreditam que o deslocamento de pessoas nas cidades é algo normal, relacionado a uma série de fatores. Para eles, o processo de gentrificação vem só a trazer benefícios para as pessoas de menor poder aquisitivo. No Brasil, não há pesquisas que apontem se, de fato, a ela promove melhorias nas cidades, mas todos os especialistas afirmam que, sim, é possível haver descaracterização de bairros. Também que, sim, as populações de baixa renda podem estar sendo manipuladas por um sistema capitalista, que seria o maior responsável pela transformação no perfil das paisagens urbanizadas do país.

+ Possíveis vantagens e desvantagens
Gentrificação é um processo controverso, com muitos prós e contras. Supondo que ele possa ser responsável pela valorização de uma região, pessoas de alta renda seriam atraídas por boas iniciativas de infraestrutura. Áreas antes abandonadas pelo poder público e iniciativa privada passariam a ser valorizadas rapidamente. Sua economia seria revitalizada. Haveria uma redução na criminalidade. Logo, os imóveis teriam seus preços elevados, aumentando também o custo de vida no local. Isso, inevitavelmente, resultaria na expulsão de antigos moradores para áreas mais distantes, onde os impostos fossem mais em conta, mas as deficiências ainda maiores que no bairro anterior.

Portanto, de um modo ou de outro, quando mal conduzida, a gentrificação acaba sendo responsável pela promoção de uma série de problemas graves para o futuro das cidades. E a realidade pode ser ainda pior, com remoções de favelas, aumento excessivo nos preços dos aluguéis, formação de novos pontos de poluição atmosférica, destruição de espaços verdes, surgimento de “ilhas de calor”, construção de edifícios desrespeitando o traçado urbano, entre outras desvantagens. Alguns até podem dizer que o processo é uma grande oportunidade. Mas, na verdade, é um alto investimento, com respaldo do poder público, feito para atender apenas uma demanda de interesse privado.

+ Exemplos de gentrificação no Brasil
Em 2015, o governo de Paris adotou medidas para barrar a gentrificação na cidade, listando endereços que teriam sua venda proibida e que seriam transformados em moradias subsidiadas. Já no Brasil, esse fenômeno de transformação do espaço urbano é algo que também tem acontecido, principalmente com a substituição de comunidades mais pobres por obras voltadas aos nobres. Áreas em diversas capitais do país sofreram agressivas e fracassadas intervenções por parte do poder público, em virtude da preparação para a Copa do Mundo de 2014.
Para 2016, o Rio de Janeiro aprovou projetos para a Cidade Olímpica que, em princípio, deveriam manter a comunidade local. Mas, as obras acabaram sendo usadas como desculpa para fazer remoções em massa. Houve uma supervalorização imobiliária por toda a cidade. Pessoas de classe econômica mais baixa foram expulsas de áreas vistas como potencialmente nobres. Um evento tão bonito, símbolo de interação, inclusão e democracia, foi só o início de uma série de escândalos e decepções para a sociedade brasileira.

Entenda melhor o que significa gentrificação para a arquitetura e o urbanismo assistindo ao vídeo logo abaixo:
Fontes: Pensamento Verde, UOL, Nexo Jornal, Archdaily.
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