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O que está por trás da arquitetura de Veneza?

Ao nordeste do território italiano localiza-se, por uma área pantanosa de mais de quatrocentos quilômetros quadrados, a bela e frágil Veneza. As características singulares de seu ambiente geográfico, formado por ilhas sobre a laguna ligada ao Mar Adriático, chamam a atenção desde a sua fundação, em 421 a.C.. E a mistura dessa urbanidade peculiar com um grande patrimônio artístico faz sua atmosfera ser totalmente convidativa ao turismo. Por isso essa cidade é o destino de viagem perfeito aos amantes da cultura.

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A cidade de Veneza, nos dias de hoje. (imagem de Wikipedia)

+ O surgimento de Veneza

Acreditam os historiadores que Veneza tenha surgido por volta do século V a.C., a partir de um conjunto de habitações pertencente aos colonos que se refugiavam, ali, das invasões bárbaras. A localização estratégica das ilhas permitia um ambiente mais protegido, tanto por terra, quanto por mar. Esses ocupantes enfrentaram a falta de materiais resistentes e a dificuldade em construir estruturas fortes nessas condições. Mesmo assim, ergueram a maravilhosa cidade sobre as águas.

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Mapa retratando a cidade de Veneza – do livro ‘Braun e Civitates Orbis Terrarum do Hogenberg’, de 1572. (imagem extraída do site Oislam)

Até o final do século XIII, essa região era a mais próspera de toda a Europa. A capital da República de Veneza foi um importante centro comercial e cultural, especialmente do ‘mundo muçulmano’. Eram nos mercados da cidade que se ofertavam as sedas, as fibras e as especiarias mais preciosas. Outro destaque era o seu grande poder de arsenal, que fez de Veneza uma potência marítima da Idade Média à Renascença. Durante muito tempo, as famílias nobres competiram para construir os melhores palácios na região.

No século XV, Veneza entrou em declínio. Portugal e Espanha tornavam-se grandes potências comerciais, afetando sua economia. Os conflitos com outros povos, como os otomanos; e as seguidas pestes mataram milhares de venezianos, devastando a cidade por anos. Mesmo assim, Veneza voltou a se destacar no século XVIII. Agora mais elegante e refinada, exportava muitos produtos agrícolas, assim como arte, arquitetura e literatura.

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Veneza no final do século XVII. (imagem de Wikipedia)

+ A evolução urbana de Veneza

Quando Veneza surgiu, seus primeiros habitantes organizaram-se livremente. Não houve nenhuma influência monárquica ou feudal. No século XI a cidade já estava definida. Nenhuma alteração significativa ocorreu em seu traçado urbano durante séculos. A sua forma, que lembra um peixe, contém mais de cem ilhas e é cortada, atualmente, por mais de cem canais. Não há espaço para veículos. Mas, em contrapartida, Veneza contém a maior rede de calçadas do mundo.

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(imagem de Google Maps)

Nas suas vielas, que parecem até labirintos, gôndolas e vaporettos percorrem os canais, levando moradores e turistas de parada em parada. Isso acontece desde 1600. O Grande Canal atravessa seu território, formando um pronunciado ‘S’. Em seu eixo fica o centro político e o centro comercial de Veneza. Já os canais secundários adentram a cidade, onde se desenvolve o tráfego de pessoas e mercadorias. É um desenho urbano semelhante às cidades orientais mais antigas, como as bizantinas e as árabes.

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Grande Canal da cidade de Veneza. (imagem de Wikipedia)
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Um dos canais secundários da cidade. (imagem de Valdiney Pimenta em Flickr)

Modernizar Veneza sempre foi uma tarefa difícil. As dominações dos franceses, austríacos e italianos trouxeram uma nova crise, juntamente das transformações tecnológicas do século XIX e XX. Houve a introdução do gás, dos aquedutos, dos trens e de outros motorizados. Para melhorar o transporte das embarcações e para manter em movimento as águas nas zonas insulares, novos e profundos canais foram abertos. Por isso Veneza consegue ser, hoje, a única cidade do mundo no qual um transatlântico pode navegar em meio às suas edificações.

+ A elegante decadência de Veneza

Os anos de transformações industriais deixaram delicada a relação entre a cidade e a laguna de Veneza. Sempre houve preocupação com relação às marés altas. Porém, a ameaça dessa fragilidade ambiental tornou-se mais evidente por volta de 1900, quando o nível da cidade desceu vinte e três centímetros em relação ao do mar.

Os aterros construídos nas margens vizinhas, nas décadas de 1920 e 1970; e os novos canais escavados para a navegação, na década de 1950, agravaram os problemas que a cidade vinha enfrentando. Em 1966, a maré atingiu um nível recorde de 1,94 metros, forçando muitos habitantes a deixarem o centro histórico em direção à cidade de Mestre. Infelizmente, o enorme prejuízo e o risco às vidas não serviram de lição às autoridades. Na prática, até hoje, nada foi feito para barrar o avanço das águas.

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Vista frente do Palazzo Ducale. (imagem de Pixabay)

+ A atual situação de Veneza

Veneza continua sendo referência artística. Seus edifícios de tijolos, sobre placas de calcário e estruturas em madeira, expressam diferentes estilos arquitetônicos, o que encanta os visitantes. Infelizmente, esse turismo em massa transformou drasticamente o tecido urbano e social da cidade. Isso é só um dos fatores responsáveis pelo seu declínio demográfico.

Falta espaço de lazer para as crianças, falta emprego para os jovens, falta qualidade de vida e política habitacional, além de um plano de contenção das águas. A bela cidade parece sumir juntamente dos seus moradores. No lugar, nasce uma Veneza cenográfica, com muito a oferecer aos turistas e pouco a acrescentar na história mundial. Mas Veneza sempre será Veneza. Bela, encantadora, frágil e eterna à memória e aos corações de todos.

Fontes: Wikipedia, Super InteressanteArquitetando Blog.