
Grandes nomes da arquitetura: Lina Bo Bardi
Todo bom apreciador das artes visuais precisa saber que no Brasil viveu, entre as décadas de 1940 e 1990, uma italiana talentosíssima chamada Achillina Bo Bardi, ou somente Lina Bo Bardi. Ela foi uma pessoa batalhadora que enfrentou muitos preconceitos. Primeiro por ser mulher, num tempo em que este gênero não tinha tantos direitos. Depois, por ser uma estrangeira, com ideias revolucionárias. Passou por dificuldades para conseguir clientes e realizar projetos. E, até recentemente, era esquecida pela Academia, que desprezava sua atuação, mesmo tendo Lina recebido tantos prêmios e sido fonte de inspiração para arquitetos do mundo inteiro.

+ Quem foi Lina Bo Bardi
Lina Bo Bardi nasceu em Roma, no ano de 1914. Ela estudou arquitetura em sua própria cidade, na década de 1940. Ao longo da vida, realizou trabalhos nesta e em outras áreas. Atuou como designer, cenógrafa, curadora de museus, professora, ilustradora, escritora, editora e antropóloga. Também foi ativa no cinema, no teatro e nas artes plásticas. Envolveu-se com diferentes projetos, desde obras públicas até espaços de cultura e lazer. Sempre muito convicta de suas ideias, demonstrou ao mundo como, através dos simples traços dos arquitetos, tudo poderia ser transformado positivamente.
“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.” – Lina Bo Bardi, em documentário de Aurélio Michiles.

Sua primeira aventura foi se transferir para Milão. Lá, ela trabalhou com Gió Ponti, arquiteto líder do movimento pela valorização do artesanato e diretor da conhecida revista Domus – em que Lina, em pouco tempo, passaria a dirigir. Após ter superado a II Guerra Mundial, em 1946, Lina casou-se com Pietro Maria Bardi, crítico de arte, jornalista e historiador. Eles atravessaram o globo para morar no Brasil. Foi onde, ao lado do também italiano Giancarlo Palanti, que a arquiteta fundou o Studio d’Arte Palma, voltado à criação de móveis em materiais como madeira, chita e couro, próprios da cultura brasileira.

+ Obras de Lina no Brasil
Pietro, marido de Lina, foi convidado por Assis Chateaubriand, depois que chegou ao Brasil, para dirigir o Museu de Arte de São Paulo. Justamente devido à esta incrível oportunidade é que a arquiteta teve a chance de participar do projeto para as novas instalações da instituição, na Avenida Paulista, no ano 1947. Mas, a profissional só começou a ganhar destaque no meio arquitetônico nacional após começar a atuar como editora da revista Habitat, em 1950. Um ano depois, foi a vez dela se dedicar a sua nova residência, no bairro do Morumbi, em São Paulo, apelidada de “Casa de Vidro”.


O trabalho de Lina Bo Bardi foi de extrema importância para a arquitetura nacional e internacional. É impossível não reconhecer seu legado. No Brasil, sua obra não ficou restrita apenas à São Paulo. Ela também foi responsável pelo restauro do Museu de Arte Moderna da Bahia e da Casa da Cultura de Pernambuco, pelo projeto da Igreja do Espirito Santo do Cerrado e do Sesc Pompéia, além de muitos outros. Somam-se às suas obras aquarelas, peças gráficas e o desenvolvimento de peças mobiliárias.


+ Características do seu trabalho
Lina Bo Bardi relacionava sua criatividade ao trabalho de importantes artistas, como Le Corbusier. Ela mesma foi uma das poucas arquitetas modernistas. Devido ao seu olhar antropológico, foi capaz de unir muitos dos conceitos deste movimento de vanguarda estética à elementos da cultura tradicional brasileira – o simples com o plural. Vir morar no Brasil lhe foi uma boa oportunidade de expandir as ideias; de criar formas limpas e sem ornamentação, fugindo de tudo que fosse supérfluo – algo muitas vezes titulado como “arquitetura pobre”; e de explorar outras tecnologias e materiais, como o concreto armado e o aço.
“Deslumbre. Para quem chegava pelo mar, o Ministério da Educação e Saúde avançava como um grande navio branco e azul contra o céu. Primeira mensagem de paz após o dilúvio da Segunda Guerra Mundial. Me senti num país inimaginável, onde tudo era possível.” – Lina Bo Bardi ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1946.

“Lina Bo Bardi, por meio de seus projetos, procurou reconhecer e dar legitimidade às tradicionais técnicas artesanais locais. Sua sensibilidade e simplicidade no uso das formas é capaz de criar espaços memoráveis.” – Gabriel Ruiz de Oliveira, professor de História da Arte da FMU, em entrevista de Casa Cor.

+ A arquitetura inclusiva de Lina
“No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com arte, uma espécie de aliança entre dever e prática científica.” – Lina Bo Bardi, em documentário de Aurélio Michiles.
No Brasil, Lina conseguiu amadurecer o seu estilo, de forma mais livre e solta, diferente de tudo que se via naquela época. Criou projetos marcantes, únicos, que demonstraram bem sua preocupação com os seres humanos por trás de cada obra, projetistas, empreiteiros e usuários. Ela acreditava que todos os espaços deveriam ser construídos pelas próprias pessoas da comunidade, integrando-as e fazendo-as sentir e participar da nova arquitetura lhes oferecidas. E buscava, sempre que possível, integrar ambientes internos e externos, através de grandes vãos envidraçados ou de passagens estratégias. Estas ideias foram fruto de longas horas, refletindo e fazendo anotações, antes de produzir cada uma de suas obras.
Quer saber mais sobre a vida e obra desta maravilhosa arquiteta? Assista ao documentário logo abaixo:
Fontes: Itau Cultural, Sienge, CAU, Carta Capital.
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