Durante o século XIX, o mundo passava por uma grande transformação tecnológica, a Revolução Industrial. Em primeiro de maio de 1851, Londres recebeu uma grande feira internacional. Aberta pela Rainha Victoria, em Hyde Park, ela durou seis meses e recebeu mais de quatorze mil expositores, apresentando os mais diversos produtos de todo o mundo, fruto desse momento econômico.

Para a construção do edifício que abrigaria a feira, foi realizado um concurso de arquitetura. Duzentos e quarenta e cinco propostas foram apresentadas, mas nenhuma delas atendia as especificações necessárias. Foi com a ideia de um simples jardineiro, Joseph Paxton, que o edifício tornou-se realidade e antecipou o início da arquitetura moderna.

Tinham-se poucos recursos e um tempo muito curto para os preparativos da exposição internacional. Seria preciso construir enormes salões para atender os consumidores. E já que havia disponíveis novos métodos e sistemas construtivos, foi possível explorar as alternativas, como a criação de vãos maiores e o uso de transparências. Foi assim que surgiu o Palácio de Cristal, que, representou a evolução dos tempos e a nova maneira de se pensar dos projetistas.

Joseph Paxton era um profissional de renome na Inglaterra, conhecido por muitos trabalhos como jardineiro, arquiteto e paisagista. Em Chatsworth House, por exemplo, trabalhou para o sexto duque de Devonshire. Já suas obras em Bikenhead Park inspiraram o projeto do Central Park de Nova York. Paxton era visionário, estava desenvolvendo muitas técnicas na área da construção modular, principalmente para estufas. Foi através do seu conhecimento, muito inspirado pelo projeto da Victoria Regia House, que conseguiu, em menos de um ano, construir o que seria, para a época, uma espetacular demonstração da tecnologia britânica.  projeto do Palácio de Cristal surpreendeu a todos, por ter conseguido incorporar, de forma inovadora, muitos dos recentes avanços industriais. Isto era algo no qual a exposição estava destinada a comemorar.

A iluminação natural impressionante dos interiores encantou os visitantes. Isto só foi possível através da invenção das grandes folhas de vidro e da estrutura em ferro fundido. Nunca havia tido uma construção pré-fabricada como esta. As peças só precisavam ser parafusadas no local. Joseph foi assistido pelo engenheiro civil Charles Fox. Juntos eles construíram, dentro do orçamento e do cronograma estabelecidos, a estrutura com a maior área de vidro já vista pelo homem em anos.

A forma do edifício do Palácio de Cristal seguiu sua função. Foi inicialmente apenas um enorme salão retangular de teto plano. Depois ganhou ‘asas’, estendendo-se aos lados; e um transepto abobadado, com espaço principal em dois andares. A estrutura era forte e leve. Sua montagem foi rápida. As peças eram quase todas idênticas. O tamanho total do edifício foi determinado pelo tamanho dos painéis de vidro, que tinham em torno de vinte e cinco por cento e vinte e cinco centímetros.

Dentre os maiores desafios enfrentados por Paxton, estavam o escoamento da chuva e a ventilação interna. Canais de ferro em forma de ‘U’ corriam ao longo de cada seção do telhado, o que ajudava no percurso das águas. Porém os vazamentos persistiram, mesmo depois da inauguração. A solução sugerida, de selar com massa, foi inútil. Já para conter o acúmulo de calor e suavizar a entrada de luz, foram instaladas lonas no exterior do edifício, esticadas até o cume do telhado. O sistema de ventilação ficou a cargo dos módulos-grelhas, que podiam ser abertos por um sistema de engrenagem, liberando o ar quente para fora.

Depois do fim da exposição alguma coisa precisava ser feita com o edifício. Os londrinos tiveram a ideia, então, de transferi-lo para o sul, em Sydenham, no ano de 1852. Neste local, subúrbio rico de grandes moradias, ele foi modificado e ampliado. O novo edifício incorporou as peças antigas, mas sua estrutura era bastante diferente. Só o transepto central tornou-se duas vezes maior e ainda foram adicionados mais dois, em cada extremidade da galeria principal.

No novo Palácio de Cristal de Londres muitos outros programas foram realizados. Exposições de animais, de produtos agrícolas, de flores, de automóveis, de aeronaves e até de artigos de batalha, após a Primeira Guerra Mundial. Passando a década de 1890 o edifício perdeu, significativamente, sua popularidade, caiu em desuso e ficou bem deteriorado. Somente em 1920 houve investimento para sua restauração. Infelizmente, em 1936, após uma celebração com fogos de artifício, ele pegou fogo e ficou totalmente destruído. Hoje, restam apenas os terraços, em estilo italiano.

Nos últimos anos, pensou-se na reconstrução do Palácio de Cristal, como uma forma de resgatar esta parte perdida da história inglesa. Houve numerosas propostas, mas nenhuma concretizada. A última foi em 2013, dada por um grupo chinês que tinha a intenção de abrigar, no futuro edifício, um hotel, um centro de conferências e outros espaços comerciais. Mas, a ideia de acabar com uma área verde, surgida no local após o incêndio, e fazer uma réplica arquitetônica, deixou muitos descontentes. Enfim, o acordo foi cancelado e o mundo guarda na memória somente a lembrança e poucos registros desta inesquecível construção, que inspirou muitos outros projetos, como o Palácio de Cristal de Petrópolis, no Brasil.

O vídeo a seguir – em inglês – mostra uma das poucas imagens do projeto e data de 1935:

Fontes: Wikipedia, Daily Mail, BBC.