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ESPECIAL BDA: a arquitetura por trás dos carros alegóricos e do Carnaval

Fevereiro é o mês de folia no Brasil. Milhares de pessoas aproveitam o feriado para extravasar toda a energia, participando dos blocos carnavalescos ou assistindo aos desfiles de escolas de samba. A arquitetura temporária das alegorias mobiliza o trabalho de profissionais de diversos setores da economia. À medida que esta festa se tornou mais sofisticada, com carros alegóricos cada vez mais grandiosos e repletos de efeitos especiais, a presença especialistas, como engenheiros mecânicos e eletricistas, se tornou indispensável dentro dos barracões. A construção envolve também o trabalho de marceneiros, soldadores, escultores, artesãos e mais. Mas, existe um personagem que têm ganhado espaço de destaque na supervisão da criação, construção, aprovação e produção do desfile desses veículos: o arquiteto.

(imagem extraída de Wikimedia)

+ Os primeiros carros alegóricos no carnaval brasileiro

A ideia de usar carros ornamentados em desfiles não surgiu no Brasil. Na verdade, esta história começou em Veneza, na Itália, e em Paris, na França – e isso foi há centenas de anos. No século XVIII, conhecido como Período Colonial, o rei de Portugal, D. João V, trouxe consigo para a América do Sul tal tendência de realizar festas luxuosas, de escalas monumentais, evolvendo apresentações de teatros, músicas e manifestações de arquitetura efêmera. Tais comemorações serviam, justamente, para bajular as autoridades. Elas marcaram momentos importantes da história, como nascimentos e casamentos na corte. Pode-se dizer que essa é a raiz do carnaval brasileiro.

O militar e artista Antônio Francisco Soares foi o precursor do carnaval brasileiro como se conhece hoje. Ele foi o primeiro a projetar e construir carros alegóricos no Rio de Janeiro, em 1786. Seus modelos eram movidos à tração animal e serviram para as festividades promovidas na época pelo vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa. Com o tempo, alegorias assim passaram a ser utilizadas nos desfiles de rua. A brincadeira, que antes envolvia jogar bexigas com a água e urina – costume também português, chamado de “entrudo” – acabou sendo substituída por carroças enfeitadas, lotada de foliões e puxadas por burros.

(imagens extraídas de CEERT e Wikimedia)

+ O Sambódromo do Rio de Janeiro

As festas de carnaval no Rio de Janeiro tomaram uma proporção tão grande que, na década de oitenta, o governo, por iniciativa do antropólogo Darcy Ribeiro,  providenciou a construção de um espaço próprio destinado aos desfiles das escolas de samba. A ‘Marquês de Sapucaí’ foi projetada pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer e inaugurada em 1984. Sua base estrutural é composta de aço e concreto. Dentro do complexo há salas de aulas – que ficam sob as arquibancadas; passarelas; uma avenida de 700 metros de comprimento; um largo aberto; um Museu do Samba; e uma fantástica escultura, considerada como um marco importante na paisagem carioca. A última reforma desta obra serviu para a realização de provas dos Jogos Olímpicos de 2016.

(imagem extraída de Aviz e Suzane – Design Ilustração Animação)
(imagens extraídas de Jorge Luiz Silveira)

+ A arquitetura do carnaval carioca como tema de estudo internacional

A arquitetura efêmera e móvel do carnaval carioca, além de extremamente bela, possui um papel social importante e serve de inspiração para o mundo. No quadro de funcionários das escolas estão desde bacharéis renomados a pessoas simples, que moram nas próprias comunidades de onde as escolas surgiram. A relação dessa arte e a cidade foi, recentemente, tema de estudo para o mestrado da americana Gia Wolf, pela Universidade de Harvard. Com seu projeto, titulado de “Floating City: The Community-Based Architecture of Parade Floats”, que fala da arquitetura dos carros alegóricos, ela recebeu o primeiro prêmio do concurso ‘Wheelwright Prize’. Sua ideia é fomentar novas pesquisas nesta área e demonstrar como essa prática deve ser reconhecida e valorizada também como arte.

“Os carros alegóricos têm uma escala arquitetônica e é muito surreal a relação entre eles e os prédios, os veículos, as árvores, a fiação, o viaduto, os pedestres… Eles são realmente construções móveis se movimentando pela cidade, que sofre uma transformação na sua atmosfera para o carnaval” – arquiteta Gia Wolff, em reportagem do jornal ‘O Globo’.

(imagem extraída de Mostra Carnaval Rio)
(imagem extraída de Mostra Carnaval Rio)

+ O papel do arquiteto na criação dos carros alegóricos

“Quando me formei, sonhava, como todo estudante de arquitetura, em ser um novo Niemeyer. Mas fui mordido pelo bichinho do carnaval (…).” – arquiteto Alexandre Louzada, em reportagem do jornal ‘O Globo’.

Entre os muitos profissionais contratados para trabalhar com o Carnaval estão os arquitetos, que desempenham diversas tarefas que vão desde assistente de carnavalesco, gestor a diretor de barracão. Muitas escolas de samba têm investido neste tipo de especialista. Arquitetos tem boa noção de proporções, de materiais, de cores, de texturas e de expressões visuais.  Tudo isso tem a ver com o Carnaval. Como se não bastasse todo esse conhecimento já adquirido na academia e também com a experiência prática com obras civis, muitos arquitetos que desejam trabalhar com essa arte realizam cursos de pós-graduação, como o sobre figurino e carnaval oferecido pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio.

(imagem extraída de Radio Arquibancada)
(imagem extraída de Portal do Samba RJ)

+ A atuação do arquiteto dentro dos barracões

São algumas das responsabilidades designadas a arquitetos nas escolas de samba:

– dar ideias criativas para que a grande escultura fique de acordo com o tema do enredo escolhido;

– desenvolver croquis, maquetes 3D e desenhos técnicos dos carros alegóricos;

– buscar soluções para evitar qualquer desperdício de materiais e possíveis acidentes durante o desfile; e

– fiscalizar a construção dos mesmos, avaliando se tudo está seguindo de acordo com o projeto e dentro do tempo de execução estimado, principalmente quanto à questão estrutural e as normas de prevenção e combate contra incêndio e pânico.

(imagem extraída de Wikimedia)
(imagem extraída de Wikimedia)

“(…) queria saber como o carnaval era feito. Mas, aos poucos, fui me apaixonando e vi que podia unir minha profissão à paixão (…).” – arquiteto Sílvio Ferreira Baptista, em reportagem do jornal ‘O Globo’.

São exemplos de arquitetos que trabalham com o Carnaval, especificamente na cidade do Rio de Janeiro:

– Monclair Oliveira Filho, que já trabalhou com o carnaval da ‘Porto da Pedra’ e da ‘Grande Rio’;

– Alexandre Louzada, que é também carnavalesco da ‘Portela’;

– Sílvio Ferreira Baptista, especialista em cenografia, funcionário da ‘Grande Rio’; e

– Fran Sergio Santos, integrante da comissão de carnaval da ‘Beija-Flor’.

Fontes: O GloboGloboWikipediaCentro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades.


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