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Curiosidade: saiba quais arquiteturas são consideradas vernáculas

Com o passar dos anos e a evolução das espécies, a raça humana foi sentindo a necessidade de ter mais conforto e segurança. Os primeiros abrigos surgiram assim, de maneira quase instintiva. Era uma forma de se adaptar melhor ao meio. Suas técnicas construtivas foram sendo aprimoradas lentamente, ao longo de muitos séculos, até chegarem a um alto grau de sofisticação.

Essa “arquitetura sem arquitetos” só passou a ser analisada na virada do século XX. Conhecida como vernacular, foi estudada por grandes profissionais como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e, aqui no Brasil, por Lúcio Costa. Mas esse termo só se tornou popular por volta do ano de 1964, depois de uma exposição organizada por Bernard Rudofsky. Com a contemporaneidade, esse tipo de construção ganhou outras características, sendo reproduzidas nos novos projetos.

Exemplar de cabana na África e de cabana na Europa. (imagens extraídas de Pixabay e Archdaily)

+ O que é arquitetura vernacular?

“Arquitetura vernacular pode ser dito àquela linguagem arquitetônica das pessoas, com seus ‘dialetos’ étnicos, regionais e locais.” – disse Paul Oliver, autor da ‘Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo’.

A palavra “vernacular” significa ‘doméstico’ ou ‘nativo’. Por isso, alguns relacionam a arquitetura vernacular ou vernácula às construções mais populares da antiguidade. Já outros a consideram como sendo especialmente sustentável. Mas, em verdade, isso vai muito além. Ela está diretamente ligada aos diferentes métodos de construção e materiais disponíveis em uma determinada região, assim como às questões geográficas, climáticas, culturais e outras.

Conjunto de Gurunsi, em Burkina Faso, Gana. (imagem extraída de Davide Comelli em Flickr)
Casas Mugsum, em Camarões; e Casas Colmeia em Harran, na Turquia. (imagens extraídas de Wikimedia e Hiveminer)

+ Tipologias construtivas

Arquitetura vernacular é geralmente realizada por pessoas comuns, que desejam, acima de tudo, suprir suas necessidades de moradia, deixando as questões estéticas em último plano. Quase sempre, elas incorporam, nessas construções, suas principais habilidades e conhecimentos, que são passados de geração em geração. Muitos historiadores divergem se as obras tradicionais de influência européia poderiam ser classificadas do mesmo modo. Se esse não for o caso, em alguns países, como o Brasil, essa tipologia estaria restrita somente às construções indígenas ou a outros poucos modelos residenciais, próprios de certas épocas e locais específicos.

Casas de junco em Ma’dan, no Iraque. (imagem extraída de Gocsan)
Exemplo de casa em bambu; e casa em adobe. (imagens extraídas de Pixabay e Wikimedia)

Cidades históricas, como Ouro Preto, em Minas Gerais, são muito valorizadas pelo uso de materiais e recursos do próprio ambiente onde estão inseridas. Existem exemplos assim espalhados por todo o mundo. Eles são estudados, constantemente, pelos jovens arquitetos. Enganam-se aqueles que acreditam que essas técnicas possam prejudicar a estética das construções atuais. Pelo contrário, as tipologias regionais são uma rica fonte de inspiração de como edificar com elementos simples e naturais, promovendo melhor o conforto e o convívio social.

Cliff Palace Loop, Mesa Verde National Park, nos Estados Unidos. (imagem extraída de Wikimedia)

+ Materiais empregados

Ao longo da história, todos os povos, devido ao clima e a disponibilidade de matérias-primas nos locais onde viviam, desenvolveram diversas soluções arquitetônicas eficientes, orgânicas e até sustentáveis, para erguer suas edificações. Foi a partir daí que surgiram algumas das técnicas conhecidas ainda nos dias de hoje. Como exemplo, têm-se as casas em madeira, bambu, pedra, adobe, taipa de mão e de pilão, pau-a-pique, palha e outras mais. Todas têm em comum a excelente adaptação ao microclima, com o isolamento térmico e acústico adequado.

São obras mínimas, sem quaisquer excessos. Elas traduzem a conexão vital entre os seres humanos e o ambiente. Refletem sua vida cotidiana, suas experiências e tradições. Por isso, a arquitetura vernacular pode ser considerada também como a principal responsável pela definição do caráter de uma determinada região, diferenciando-a fisicamente de outras zonas ao redor do mundo. Todas as construções da contemporaneidade deveriam tê-las como referência para um modo de edificar mais sustentável e contextualmente consciente.

Cabana tradicional na Malásia. (imagem extraída de musimpanas em Flickr)
Zhangzhou City, na China. (imagem extraída de Wikipedia)

+ Percepções negativas

Infelizmente, o avanço das modernas tecnologias em aço, concreto e vidro faz com que os tipos mais tradicionais de arquitetura sejam, por vezes, desvalorizados. Obras antigas são esquecidas no tempo, caindo em desuso e precisando ser demolidas. Elas acabam dando lugar a edifícios mais novos, geralmente de padrão inferior e com graves problemas bioclimáticos e construtivos. Só que, na opinião de muitos, esses seriam os modelos mais corretos, de alta qualidade, símbolos de riqueza.

Alguns associam o termo ‘vernáculo’ com subdesenvolvimento, pobreza, baixo padrão e a obras temporárias ou desatualizadas. Lamentavelmente, o crescente desprezo por essa linguagem não está apenas no ocidente como também em países na África, por exemplo. Lá, muitas das construções históricas estão prestes a desaparecer, sendo substituídas por outras de técnicas construtivas tão semelhantes quanto às empregadas em qualquer outra região do planeta. Como consequência disso, no mínimo, pode haver uma enorme perda de identidade arquitetônica e o fim para muitas culturas regionais.

Læsø, na Dinamarca. (imagem extraída de Materia NL)
Um modelo de casa de neve. (imagem extraída de Wikimedia)

O vídeo abaixo traz algumas reflexões a respeito. Olha só:

Fontes: Vitruvius, ArchdailyBrasilia ConcretaPensamento Verde.


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