
Conheça o único projeto de Le Corbusier na América Latina
O suíço Le Corbusier foi um dos profissionais mais importantes do século XX. Ficou conhecido por atuar ao lado de grandes nomes da arquitetura e do design, como Peter Behrens, Walter Gropius e Mies Van der Rohe, e por criar obras de cunho modernista, como a Villa Savoye, em Poissy-sur-Seine, na França. Mas o que poucos sabem é que ele também teve um projeto executado na Amárica Latina, mais precisamente na Argentina. A Casa Curutchet, assim chamada, está em uma lista com mais 17 edifícios do Patrimônio Mundial da UNESCO. Não há dúvidas de que esse foi um dos trabalhos mais válidos que este arquiteto e urbanista fez ao longo de sua carreira, adquirindo um caráter de atemporalidade.

+ Um pouco de história
A Casa Curutchet – ou Maison Curutchet – está localizada em um terreno de nove metros por vinte, na esquina das ruas 1 e 53, frente ao Parque Paseo del Bosque, em La Plata, a capital da província de Buenos Aires. Foi uma encomenda de Pedro Domingo Curutchet, um médico proeminente que projetava seus próprios instrumentos cirúrgicos. A edificação começou a ser construída, com a supervisão do arquiteto Amancio Williams, no ano de 1949, mas acabou sendo finalizada apenas no ano de 1953, após a colaboração de Simon Ungar e Alberto Valdés.

Por incrível que pareça, Le Corbusier aceitou realizar o projeto sem jamais conhecer pessoalmente seu cliente ou mesmo o endereço de sua obra. Toda a comunicação entre as partes foi realizada através de cartas. O Doutor Curutchet lhe mandou esboços de suas ideias e os desenhos de situação do terreno, juntamente com o programa de necessidades, enfatizando algumas questões importantes, como a ideia de se ter um consultório particular independente, para o atendimento de pacientes em seu domicílio. Pois, a resposta do arquiteto chegou um tempo depois, com um conjunto de desenhos e uma lista de profissionais que ele achava que seriam competentes suficientes para acompanhar a execução.
“Tendo estabelecido o Plano de Buenos Aires em 1938-1939 que atualmente está sendo considerado pelo governo, estou interessado na idéia de fazer uma pequena casa doméstica na qual eu gostaria de fazer uma pequena obra-prima de simplicidade, conveniência e de harmonia, sempre dentro dos limites de uma construção extremamente simples e sem luxos, perfeitamente conformando, por outro lado, com os meus hábitos” – Le Corbusier, em correspondência para Dr. Pedro Curutchet, em 1948.

+ Um marco na trajetória
A “modesta” residência de Curutchet, feita em concreto armado, apoiada sobre pilotis circulares e vigas secundárias, foi um marco na carreia do arquiteto Le Corbusier. Primeiro, porque essa foi mais uma boa oportunidade dele testar sua teoria sobre os ‘Cinco Pontos da Arquitetura Moderna’ e do ‘Modulor’ – um sistema de medidas criado pelo profissional. Segundo, porque foi um dos poucos edifícios em que ele respeitou, de fato, o contexto histórico, utilizando linhas dos prédios vizinhos como referência para a fachada da nova casa. Isso garantiu um bom diálogo com o entorno, provando que a arquitetura moderna é capaz, sim, de estar em harmonia com a arquitetura tradicional.

+ Níveis e ambientes
Le Corbusier dividiu a Casa Curutchet em quatro níveis, de zona profissional à íntima familiar. Tudo foi interligado através do uso de uma rampa, de uma escada comum e de uma em espiral. É pelo primeiro trajeto que o observador pode conferir as melhores perspectivas da edificação. Pode-se dizer que a galeria inclinada é o elemento mais importante dessa arquitetura. Ela leva as pessoas as diferentes partes da casa, convidando-as a caminharem verticalmente e explorarem os espaços, que foram organizados de acordo com certa hierarquia.

O primeiro andar contém o escritório, tão desejado pelo médico Curutchet, dividido entre sala de espera, sala de exame e de empregado. Nos andares superiores estão a zona de moradia e o terraço jardim – ideia que segue a tal teoria dos ‘Cinco Pontos’. A área familiar apresenta uma cozinha, sala de estar e jantar com pé-direito duplo, três dormitórios e dois banheiros. A planta baixa é bem ampla e aberta, subdividida com divisórias de vidro ou de madeira – alguns ambientes têm, inclusive, armários embutidos.
No terraço é onde se tem a vista mais privilegiada do parque de La Plata. O telhado do escritório serve de jardim suspenso, seco, por onde trespassa a árvore de álamo plantada no piso térreo, assim como o desejo do arquiteto. Sua ideia era proporcionar um espaço agradável para que os moradores pudessem apreciar o bosque ao redor e aproveitar as melhores horas do dia sob a luz solar.

+ Outros detalhes arquitetônicos
O acesso principal da Casa Curutchet se dá pela entrada emoldurada do piso térreo. A fachada, principalmente na área do escritório, apresenta janelas amplas, escondidas ou protegidas por brises-soleils – algo utilizado também em outras obras de Le Corbusier, como na Unité d’habitation, em Marselha. Aliás, a transparência, o jogo de cheios e vazios, de planos horizontais e verticais, e outros fragmentos são o que formam ou que completam a incrível geometria desta residência, que tem um quadro estrutural racional e outros elementos de formas orgânicas, resultando em espaços fluidos e uma funcionalidade muito bem sucedida.


Sobre as cores dos revestimentos, Le Corbusier enviou aos proprietários indicações precisas do que usar, do chão ao teto. É o seguinte: pisos de azulejos marrons, com exceção da área do escritório; paredes brancas, com exceção de alguns panos de pequenas dimensões nos interiores dos dormitórios, em azul e vermelho claro; e caixilhos de janelas em azul.

+ A Casa Curutchet atualmente
“O público está compreendendo cada vez mais esse trabalho que parecia tão estranho para muitos no início. Esta é ‘a casa de Le Corbusier’; Tenho a honra de ser o dono” – Dr. Curutchet, em uma escrita para o arquiteto, em 1957.
A casa projetada por Le Cobursier, em La Plata, abrigou a família Curutchet somente por sete anos. Depois disso, ela ficou anos desabitada, mas passou por uma restauração e abriu para à visitação, em 2002. Hoje, o prédio pertence a herdeiros dos proprietários originais. Está alugada à associação profissional Colégio de Arquitetos. E, sim, como outras “casas-manifesto”, esta não poderia ser diferente, acabou não cumprindo a função de moradia e se tornou uma espécie de monumento. Mas, de todo modo, continua importante, pois ensina, constantemente, às novas gerações sobre todas as qualidades e a beleza da arquitetura moderna.
Se você deseja compreender melhor esta obra tão complexa, então veja o vídeo abaixo. Ele poderá lhe esclarecer onde fica cada um dos ambientes de acordo com sua localização na planta baixa do imóvel.
Fontes: Wikipedia, WikiArquitectura, Técnne, Clarín, ArcDaily.
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