
Como são construídas as cidades cenográficas?
“E se o nosso ambiente fosse apenas um set de filmagens?”
“Como seria nossa vida nesse mundo falso?”
Essas perguntas são o tema do curta-metragem ‘Apparences’, do casal Claire e Maxine. Na obra, podemos ver uma Paris fictícia, tão familiar, bela e rica em detalhes quanto é a própria cidade verdadeira. Porém, trata-se de uma arquitetura irreal, ilusória, efêmera. São assim as cidades cenográficas, criadas especialmente para gravações de séries e filmes da televisão e do cinema.

+ Turismo Cinematográfico
Uma vez em que gravar cenas em espaços reais, nos grandes centros urbanos, torna-se uma função mais dificultosa, cresce a importância e a necessidade da criação de cidades cenográficas. Muitos municípios pelo mundo já possuem comitês gestores que trabalham, exclusivamente, na criação de mais oportunidades e na promoção de certas obras audiovisuais, como minisséries, documentários e outros. Um exemplo disso é a ação do Ministério do Turismo no Brasil, que apoia iniciativas neste sentido, disponibilizando, inclusive, uma cartilha com o tema ‘turismo cinematográfico’.


Algumas cidades cenográficas tornam-se, com o tempo, icônicas. Isso porque elas serviram, em uma ou mais vezes, como pano de fundo para programas populares da televisão ou do cinema. Ao invés de serem desmontadas ou demolidas depois das gravações, como o de costume, elas são restauradas e viram pontos bastante marcantes. Um exemplo é o cenário de ‘O Tempo e o Vento’ em Bagé, no Rio Grande do Sul. A cidade fictícia, baseada na obra do escritor Érico Veríssimo, possui uma área de dez mil metros quadrados e dezessete construções inspiradas na arquitetura do século XIX. Recentemente, um projeto para a reconstrução dessa área foi aprovado, visando transformá-la em atração turística.

+ Ação do tempo
Existem outras cidades cenográficas conhecidas no Brasil. Uma é a da produção da série ‘A Casa das Sete Mulheres’, nos Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul. Outras são a de Nova Jerusalém, em Pernambuco; e a de Floriano, no Piauí, onde são realizadas algumas das maiores e mais famosas celebrações da Semana Santa no país, reunindo milhares de turistas e fiéis todos os anos, como um verdadeiro teatro vivo. E, por fim, também há as cidades construídas especialmente para as comemorações de São João, como a de Caruaru, também em Pernambuco.
Alguns desses cenários passam por manutenção constante. Outros acabam abandonados e viram ponto de vandalismo. O problema é que essas cidades falsas são montadas unicamente para um determinado evento, de tempo limitado. Em média, sua vida útil deveria ser de apenas três anos, já que os materiais empregados são frágeis e de baixa durabilidade. Depois disso, para manter as construções em pé, são necessárias reformas ou reconstruções.


+ Arte detalhista
É impressionante de se ver. As cidades cenográficas conseguem retratar ambientes do cotidiano de forma realista ou lúdica. Elas traduzem estilos diferentes de vida. Reproduzem arquiteturas de cidades grandes ou pequenas, de áreas rurais ou praias, simulando qualquer padrão de época que for. Cada pequeno detalhe, cada efeito sutil, dos mais simples aos mais trabalhosos e significativos, ajudam os espectadores a se envolverem mais com a trama. Não é apenas uma criação de espaços, mas o evocar de emoções.

O trabalho dos responsáveis pela montagem da cenografia vai do macro ao micro, do desenvolvimento das plantas arquitetônicas à escolha das espécies dos jardins. Para que a cidade fictícia fique de acordo com a produção visual, com as operações de engenharia, infraestrutura e segurança, uma série de medidas precisa ser tomada. E em primeiro lugar, é preciso que sejam seguidas as solicitações da sinopse do escritor e o briefing do diretor de arte. Só assim todo o cenário poderá fazer sentido com a estória contada.

Diversos profissionais devem fazer parte da concepção, projeto e montagem dos espaços cênicos. Eles devem estar sempre atentos quanto aos quesitos de viabilidade da obra, respeitando orçamentos, dimensões, aspectos artísticos – conceitos formais, plásticos e estéticos – e estruturais. É importante respeitar normas de construção, como usar materiais não inflamáveis, realizar instalações elétricas e hidráulicas seguras e ter um plano de combate a incêndios. Apesar de muitos detalhes passarem despercebidos aos olhos dos observadores, são eles que permitem os atores atingirem sua melhor performance.


+ Técnicas construtivas
As técnicas construtivas empregadas nas cidades cenográficas estão sempre em constante aprimoramento. A maioria é diferenciada e desenvolvida pela própria equipe de produção visual. Outras são tradicionais, as mesmas que eram utilizadas no tempo em que se passa a estória, como a técnica do pau-a-pique, por exemplo. Às vezes, são necessários meses de pesquisa. E nem sempre o resultado final é o que parece. Uma parede de pedra pode ser apenas um isopor esculpido e pintado, imitando os efeitos do tempo.

A dramaturgia recorre a diferentes tecnologias para criar todos os efeitos visuais desejados. Geralmente utilizam-se materiais construtivos leves, porém resistentes, para erguer as cidades cenográficas. Está nessa lista o MDF – Medium-Density Fiberboard ; o OSB – Oriented Strand Board; o alumínio, o aço galvanizado, o acetato, o gesso, o acrílico, entre outros.
A madeira tratada é usada em quase tudo. Isso porque ela possui uma durabilidade adequada para o período mínimo de filmagem, não necessitando de nenhum tipo de manutenção futura. A utilização desse material pode não ser algo muito ecológico, mas agiliza bastante o tempo de construção das cidades cenográficas, além de permitir pequenos ajustes durante a gravação, se assim necessário. Para amenizar os impactos à natureza, é sempre possível tentar fazer adaptações da proposta, alterando os detalhes para materiais mais recicláveis.

Fontes: SET.
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