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Como as tragédias em Chicago e São Francisco ajudaram a moldar a arquitetura dessas cidades

Às vezes, é só diante de uma grande tragédia que o ser humano percebe seus erros.

A virada do século XIX para o século XX foi marcada por dois tristes eventos que mudaram radicalmente o desenvolvimento dos Estados Unidos. Eles incentivaram a criação de regras mais severas para o crescimento das grandes metrópoles no mundo todo. Arquitetos e engenheiros civis tiveram de repensar suas ideias e se adequar a novas técnicas construtivas e empregos de materiais. Em meio ao caos, eles encontraram uma oportunidade de testar novos modelos urbanos e criar alguns dos edifícios mais altos do mundo.

Ilustração representando o grande desastre ocorrido na cidade de Chicago, no ano de 1871. (imagem extraída de Pinterest)

+ O Grande Incêndio de Chicago

Em outubro de 1871, a quarta maior cidade dos Estados Unidos sofreu um grave desastre. Em cerca de dois dias, Chicago foi quase totalmente engolida pelo fogo. Centenas de casas, edifícios e empresas ruíram. Houve muito pânico. As pessoas corriam aterrorizadas pelas ruas. E mesmo com os esforços dos bombeiros, no final, foram contabilizados trezentos mortos e mil desabrigados. As perdas só não foram maiores graças à chuva que caiu na região, minorando as chamas.

Ilistração intitulada como “Chicago in Flames”, outubro de 1871 – Gilder Lehrman Collection. (imagem extraída de The Gilder Lehrman)

+ As causas do desastre

“Após três semanas de seca absoluta, basta uma faísca para que a cidade seja queimada de um canto ao outro” – trecho de reportagem do jornal Chicago Tribune, ano de 1871.

Nenhuma tragédia é fruto de uma causa isolada, mas, sim, de um somatório de erros.  Até hoje ninguém consegue precisar como começou o grande incêndio que assolou Chicago. Alguns acreditam que as primeiras faíscas surgiram naquele mesmo dia, em um estábulo – um acidente envolvendo uma vaca e um lampião a querosene. Só que na véspera já haviam sido registrados outros casos semelhantes. E numa área urbana desordenada, repleta de construções em madeira e com poucos equipamentos de combate a incêndio, o resultado não poderia ser diferente. Em tempo recorde, toda a região oeste da cidade já estava destruída.

Registro de como a cidade de Chicago ficou após o incêndio de 1871. (imagem extraída de Efemerides do Efemello)
Imagens mostrando a destruição em Chicago, com prédios em madeira e tijolos totalmente em ruínas. (imagem extraída de National Geographic e Architecture)

+ Consequências e legado

“Em cinco anos, Chicago terá mais habitantes, mais dinheiro e mais negócios do que teria sem o fogo”. – John Stephan Wright.

A reconstrução de Chicago, após o evento de 1871, foi muito rápida. Em menos de uma semana o governo ergueu cerca de seis mil estruturas temporárias para receber os desabrigados. Novos códigos foram criados para regulamentar o uso de materiais mais resistentes ao fogo, como tijolo e metal. Para evitar outros incêndios como esse, foi proibido construções de edificações em madeira no distrito comercial. Essas mudanças transformaram a cidade e tornaram-na referência em arquitetura e urbanismo.

Na imagem pode-se ver zonas inteiras destruídas pelo incêndio em Chicago. (imagem extraída de Intercultural News)
Pilhas de escombros da Segunda Igreja Presbiteriana e do Edifício Tribune. (imagem extraída de Chicago Tribune)

Passado quinze anos, Chicago viu ser construído seu primeiro arranha-céu – um edifício de dez andares, com estrutura de metal. Esse foi um momento bem importante para a arquitetura moderna. Os projetistas passaram a recusar certas ideias classicistas, propondo modelos mais práticos e funcionais. O feito foi chamado, posteriormente, como ‘Escola de Chicago’. Participaram da iniciativa diversos arquitetos, como Louis Sullivan, que foram até Illinois com o objetivo de reerguer – de forma rápida, criativa, segura e econômica – a cidade. Hoje, Chicago é repleta de edifícios novos e antigos, todos se relacionando de forma muito harmoniosa com a paisagem urbana.

Vista de Chicago, nos dias de hoje.(imagem extraída de Wikipedia)

O vídeo a seguir é uma ficção narrada, que ajuda a contar como foi o Grande Incêndio de Chicago, dando uma ideia das dimensões desse triste desastre:

+ O Grande Terremoto de São Francisco

Em abril de 1906 foi vez do povo de São Francisco sofrer. Um fortíssimo terremoto, de 7.8 pontos na Escala Richter, gerou ondas sísmicas que foram sentidas por todo o estado da Califórnia. Essa foi a maior catástrofe natural de todos os tempos ocorrida em solo americano. Também foi a primeira a ser registrada por imagens fotográficas e a ser anunciada pelos sismólogos. Os pesquisadores já haviam identificado décadas antes a falha geológica de San Andreas – que fica entre a placa Norte-Americana e a placa do Pacífico. Não tardou para essa ruptura na superfície da terra apresentar graves distúrbios.

Essa fotografia mostra pessoas, entre ruínas e focos de incêndio, observando a destruição do centro de São Francisco, ao longe – autor Arnold Genthe, Rua Sacramento, 1906. (imagem extraída de Wikipedia)

+ As consequências do desastre

O terremoto ocorrido em São Francisco, no ano de 1906, deixou cerca de três mil mortos e trezentas mil pessoas desabrigadas. Oitenta por cento do seu território foi destruído. Além das edificações que desmoronaram, pelo tremor de terra, muitas outras construções foram incendiadas. Primeiro, devido às rupturas das redes de gás. Depois, pelas explosões provocadas na criação de frentes contra o fogo. E, por fim, pelos proprietários que desejavam receber ressarcimento das seguradoras, que não pretendiam cobrir danos causados por sismos. Com os encanamentos de água danificados, pouco os bombeiros puderam fazer para combater esses focos.

Como o terremoto ocorreu de madrugada, por volta da cinco horas, a maior parte dos estragos só puderam ser vistos com o raiar do dia. (imagem extraída de La Notícia HN)
Mesmo as regiões mais nobres, com edifícios feitos em sistemas construtivos e materiais mais resistentes, foram gravemente afetadas. (imagem extraída de La Notícia HN)

+ Processo de reconstrução

Aqueles que sobreviveram à tragédia precisaram enfrentar sérias dificuldades antes de ver São Francisco reconstruída. Suas casas estavam destruídas, toda a rede de água e esgoto da cidade estava afetada, as ruas esburacadas, os postes caídos e as áreas verdes tomadas por sem-tetos. Nesse período, o governo organizou acampamentos e ergueu centenas de abrigos provisórios. Também foram elaborados novos códigos de construção e planos de planejamento urbano. A ideia era preparar melhor as edificações e os serviços de infraestrutura para eventos futuros, ou seja, tornar a cidade mais resiliente.

Essa fotografia dá uma ideia de como foi severo o impacto desse tremor de terra sobre os elementos construídos da cidade. (imagem extraída de Spiegel)

Logo os grandes esquemas de reconstrução apresentaram resultados. Do caos à ordem. Em 1915, ano da Exposição Panamá-Pacífico – do qual São Francisco foi sede – a cidade já parecia estar totalmente renovada. A tragédia também deixou pressões significativas e duradouras sobre o desenvolvimento arquitetônico e urbano pelo mundo todo. Por causa do ocorrido, diversas instituições, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, passaram a intensificar seus estudos sobre terremotos. Hoje, diversos países ao redor do Planeta, como Japão e Chile, apresentam suas próprias normas para construção de edifícios com sistemas antissísmicos.

Vista de São Francisco, nos dias de hoje. (imagem extraída de Pixabay)

O vídeo a seguir conta, de forma resumida, como foram os instantes vividos pelos habitantes de São Francisco durante o Grande Terremoto de 1906:

FontesMundo a DescobertaIGDWÚltimo SegundoArch TodayChicago Tribune.


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