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Artista faz a pirâmide do Louvre desaparecer

Na belíssima ‘cidade luz’ existem pontos turísticos que são indispensáveis para visitação. Paris, um dos destinos mais românticos da França, guarda algumas das obras de arte mais notáveis do mundo. O Museu do Louvre, um exemplo de arquitetura renascentista do século dezoito, recebe, todo o dia, milhares de pessoas, que vão à busca da possibilidade de apreciação de obras dos maiores gênios da história, em exposições que apresentam peças desde criações de Leonardo Da Vinci até representações da civilização islâmica.

O Museu do Louvre é um dos pontos turísticos mais visitados no mundo.
O Museu do Louvre é um dos pontos turísticos mais visitados no mundo.

Em 1984, o, então, atual presidente da França, François Mitterrand, tentando encontrar uma solução para os problemas que o Louvre vinha enfrentando, mandou ser construída uma nova entrada principal para o museu. E foi em plena praça do Cour Carrée que  Ieoh Ming Pei, arquiteto de nacionalidade chinesa e americana,  desenvolveu uma grandiosa e controvérsia estrutura moderna. Surgiu, então, a tão famosa pirâmide de vidro e metal. O contraste das diferentes volumetrias, materialidades e estilos arquitetônicos fazem da obra de I. M. Pei ser, ainda hoje, motivo de discussão entre os parisienses.

Percorrendo as lindas ruas de Paris, pode-se notar o quanto os turistas gostam de registrar, através de fotografias e vídeos, sua passagem pela cidade. É uma mania quase incontrolável. Muitos nem sequer chegam a observar com seus próprios olhos os ricos detalhes dos monumentos e edificações, apenas os veem através das lentes. As redes sociais talvez sejam as maiores culpadas, criando esta nova necessidade de exposição pessoal através das selfies. Porém, deste modo, é muito difícil perceber, realmente, a beleza dos lugares.

Em vidro e metal, a grande pirâmide serve de entrada principal do Museu do Louvre.
Em vidro e metal, a grande pirâmide serve de entrada principal do Museu do Louvre.

Existe uma forma bem criativa de desacelerar e prender a atenção dos apressados pedestres das grandes cidades, uma delas é através da arte urbana. JR, assim como é conhecido internacionalmente o artista e fotógrafo francês Jean René, já utilizou colagens de grandes painéis com registros fotográficos, principalmente de rostos humanos, em paredes e chãos de diversas partes do mundo. Obras suas já surgiram em locais como a China, os Estados Unidos, o Oriente Médio e a França. No Brasil, JR fez uma série de fotografias de mulheres em casas de favelas.

Entre os meses de maio e junho deste ano, 2016, Jean foi convidado para realizar uma intervenção urbana no Museu do Louvre. Utilizando o princípio de distorção anamórfica, o artista cobriu setecentas peças da grande pirâmide de vidro, envelopando as quatro faces da estrutura. Foram necessários seis ajudantes para a aplicação desta arte contemporânea no museu. E, como num passe de mágica, jogando com a arquitetura do local, JR fez sumir a grande obra de I. M. Pei aos olhos de todos.

O artista Jean René e sua instalação para o Louvre - fotos divulgadas em sua página no Facebook.
O artista Jean René e sua instalação para o Louvre – fotos divulgadas em sua página no Facebook.

A inspiração de JR para o Louvre foi, justamente, os turistas e suas selfies. René notou que a maioria das pessoas davam as costas ao museu para fazer o registro fotográfico da grande pirâmide de vidro, mas não a observavam realmente. Foi, então que ele teve a ideia para sua instalação, de criar uma ilusão de invisibilidade para a pirâmide. Utilizando a aplicação de uma grande foto em preto e branco, tirada por ele mesmo, da fachada dos edifícios mais antigos vistos por atrás da estrutura de vidro, JR mudou a visão dos observadores.

A visão da obra ilusória de JR, em dois momentos do dia - fotos divulgadas em sua página no Facebook.
A visão da obra ilusória de JR, em dois momentos do dia – fotos divulgadas em sua página no Facebook.

A pirâmide, que é classificada pelo artista como a “maior geradora de selfies”, ficou, então, camuflada na paisagem. Para quem já não gostava da obra erguida I. M. Pei, na década de oitenta, pode, agora, desfrutar com alegria do palácio na sua versão mais antiga, mais limpa, como fora outrora. Claro que a instalação só fez os turistas tirarem ainda mais fotos. Mas este é um caminho sem volta. É o mal de uma geração que não consegue viver sem usufruir das tecnologias.

Fontes: Site do Artista JR, Jornal O Globo, BBC, Estadão.