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Algum palpite? Descubra como surgiram as favelas no Rio de Janeiro

A virada do século XIX para o século XX foi marcada por muitas transformações. O mundo começava a desenvolver importantes tecnologias, nas mais diversas áreas; e a prezar por ideias modernistas, como o positivismo. No Brasil, com o início da República, a elite buscava inspiração nesses modelos estrangeiros. O objetivo era encontrar meios de conter os efeitos da desorganização social decorrente e atingir o progresso. Mas, sobre bases precárias, a cada novo passo dado ficava mais evidente o despreparo dos governantes. Infelizmente, esse quadro tem se mantido até os dias de hoje.

Trecho de jornal que mostra as primeiras ações para remodelação da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. (imagem extraída de Paleo Nerd)

+ O surgimento das favelas no Rio de Janeiro

Em 1888, a Princesa Isabel assinou um documento assegurando a abolição da escravatura, a chamada Lei Áurea. Esse momento histórico desencadeou uma das maiores crises brasileiras. A produção cafeeira – então carro-chefe da economia – entrou em decadência pela falta de mão de obra; e justamente no início do desenvolvimento industrial do país. Isso gerou uma enorme massa de desempregados, sem moradia, sem dinheiro e sem qualquer outra capacitação profissional. Assim como os imigrantes recém-chegados – principalmente de Portugal – esses ex-escravos, saídos do campo, foram direto para o centro do Rio de Janeiro.

Por falta de qualquer política habitacional, o Rio viu sua população crescer com rapidez impressionante, mas em condições totalmente precárias. Isso propiciou um aumento na formação de cortiços, ou de outras moradias consideradas inadequadas, nas zonas mais nobres da capital. Logo foi decidido, pela administração pública, que essas casas deveriam ser demolidas, para uma melhor higienização e embelezamento da cidade. Essa iniciativa excludente costuma ser apontada como a principal responsável pelo surgimento das favelas.

Residências demolidas no Rio de Janeiro no ano de 1904. (imagem extraída de Bauanti Vacina)

+ O plano de reurbanização de Pereira Passos

No início do século XX, o então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, buscou apoio do presidente Rodrigues Alves para por em prática uma força-tarefa especial. A ideia era fazer uma reforma urbana completa, criando um cartão de visitas melhor para os visitantes estrangeiros. Suas ideias foram influenciadas pelas de Haussmann, na remodelação de Paris. O chamado ‘Plano de Embelezamento e Saneamento’ previa a demolição dos cortiços e casas de cômodo no centro velho da cidade, a abertura de grandes eixos de circulação e a construção de prédios novos e áreas verdes.

A medida – chamada pelos arquitetos de ‘bota-abaixo’ – impactou de forma significativa o desenvolvimento urbano da, então, capital do Brasil. Centenas de edificações foram demolidas sem o consentimento da população. Cerca de duas mil pessoas foram despejadas. Não houve qualquer pagamento de indenizações. Na época, algumas áreas de morro já eram habitadas por marinheiros e soldados, que haviam lutado na Revolta Armada e na Guerra de Canudos. Então, logicamente, essas pequenas aglomerações se tornaram a única solução de moradia para os desabrigados.

Planejamento Urbano para o Rio de Janeiro, desenvolvido no início do século XX – prevendo novas ruas, avenidas e áreas verdes. (imagem extraída de Portal Arquitetônico)
Imagens de casarões demolidos no Rio, parte da medida do ‘bota-abaixo’. (imagem extraída de Site Brasileiros e Portal Arquitetônico)

+ O Morro da Providência e as famílias de baixa renda

O Morro da Providência mudou muito ao longo dos anos. Infelizmente, boa parte das mudanças deve-se apenas aos esforços da população, já que o poder público nem sempre faz muito pelas famílias de baixa renda. As primeiras casas dessa localidade surgiram na parte baixa da colina. Seu formato em muito lembrava o das casas da Vila de Canudos. Isso porque ali residiam ex-combatentes que estiveram na Bahia, instalados pelo governo em um terreno coberto por faveleiras – uma planta da família Euforbiácea. Por isso a Providência é chamada também de ‘Morro da Favela’.

Essa situação era para ser temporária. O governo do Rio de Janeiro havia lhes prometido uma premiação por terem lutado na guerra. Porém, quando retornaram, receberam apenas promessas. Enquanto nada mudava, eles iam se instalando de forma informal nos terrenos mais desvalorizados e livres da cidade. Assim, muito rapidamente, foram surgindo as primeiras habitações populares do Morro da Providência. Esse foi um dos momentos de maior importância para a história urbana e social do país, marcado pela separação de classes e atividades em nome de uma política “organicista”.

Imagens do Morro da Providência nos primórdios. (imagem extraída de Revolta da Vacina A e Primeira Favela do RJ)
Cenário da novela ‘Lado a Lado’, da Rede Globo – simulação de moradias no Morro da Providência nos primeiros anos do século XX. (imagem extraída de G Show)

+ A autoconstrução e os assentamentos nos morros cariocas

Desta forma, as favelas substituíram diversos tipos de residências cariocas. Em 1893, o médico e político Cândido Barata Ribeiro iniciou uma verdadeira perseguição contra as famílias carentes. O primeiro cortiço a ser colocado abaixo foi o ‘Cabeça de Porco’. Com os restos de materiais dessa demolição – como chapas de madeira, por exemplo – muitos reconstruíram suas vidas, erguendo pequenos barracos sobre os morros da Providência e de Santo Antônio. Infelizmente, a maioria era malfeita ou mal-acabada e desprovida de recursos higiênicos. A elite, que sonhava em sumir com os mais pobres de vista, acabou frustrando-se quando eles tomaram toda a paisagem e tonaram-se proprietários da vista mais bonita da cidade.

Atualmente, as favelas cariocas são um exemplo de arquitetura brasileira, lembradas mundialmente como sinônimo de carência financeira, mas também de muita riqueza cultural, força, luta e esperança.

Milhares de pessoas vivem hoje nas favelas do Rio. Algumas estão bastante vulneráveis à violência, às doenças e outros riscos. Por isso, a maioria é julgada de maneira errada pela sociedade. Assim como em outros lugares, as favelas estão repletas de marginais, mas também de pessoas muito boas e honestas que foram, desde os primórdios, bastante injustiçadas.

Imagem mostrando como são as favelas do Rio nos dias de hoje. (imagem extraída de favela rocinha 03 em flickr)

Quer saber mais sobre a reforma urbana no Rio de Janeiro e como eram as favelas nos primórdios? Então, assista ao vídeo a seguir:

FontesGloboUnivespPaleo NerdUOL.


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