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A quem pertence a cidade? Uma reflexão sobre a arquitetura hostil e o espaço público

Parece cada vez mais difícil suportar as tristes notícias trazidas pelos meios de comunicação. O crescimento alarmante do número de acidentes, assaltos e sequestros só traz mais medo à população. Muitos dos problemas de violência, nas áreas urbanas, até poderiam ser justificados como sendo um reflexo da pobreza e da falta de moradia. Mas acontece que, ao invés de buscar soluções para isso, muitos preferem se preservar indiferentes. Se algo não lhes parece rentável, então é entregue ao acaso. E, infelizmente, essa é a realidade oferecida aos mais necessitados.

Em sentido oposto, inúmeros profissionais, como arquitetos e designers, vêm trabalhando para melhorar os espaços públicos e torna-los mais friendly. Mesmo assim, não muito recente, um fenômeno assustador vem se espalhando pelo mundo, mesmo nas cidades mais modernas. Está diante dos olhos, integrado à paisagem. Mas só um olhar mais atento percebe o quanto ele é agressivo. Assim pode ser definido o exercício da ‘arquitetura hostil’ ou ‘arquitetura defensiva’.

(imagem extraída de South China Morning Post)

+ Qual o propósito da ‘arquitetura hostil’?

Os pequenos ‘truques urbanos’, feitos para impedir certos usos ou comportamentos da sociedade em áreas compartilhadas, parecem ser resultantes de um ato desconhecido, ignorante. Porém, têm um propósito bem inteligente por trás. Na verdade, é a maneira mais fácil, econômica, cruel e silenciosa de manter aquilo ou aqueles que não são bem vindos fora de vista.

Os moradores de rua são os que mais sofrem com a ação da ‘arquitetura hostil’. Eles são vistos como um problema pela maioria das pessoas. E as autoridades usam justamente isso como desculpa para criar procedimentos opressivos de controle social e para influenciar negativamente o comportamento público. De repente, atividades como praticar esportes, andar de skate, sentar para esperar uma condução, conversar ou apreciar a paisagem podem passar a ser mal vistas e se tornarem proibidas.

(imagem extraída de Hometeka)
(imagem extraída de Hometeka)

+ Dispositivos contra a liberdade humana

Estão sob pontes, viadutos e marquises, frente às vitrines e portões; em soleiras de janelas ou disfarçados em uma praça. Todos servem a um único propósito: excluir o indesejado. Os elementos mais incomuns do design são aplicados a estas áreas visando reduzir crimes e afastar sujeiras. Porém, acabam por prejudicar aqueles que respeitam a lei, contribuindo para tornar desacolhedor os locais em que habitam.

(imagens extraídas de Racismo Ambiental e Listao)

São elementos comuns de design, aplicados na ‘arquitetura hostil’:

  • Pavimentações irregulares;
  • Pedras pontiagudas;
  • Espetos ou pinos metálicos;
  • Bancos públicos inclinados, ondulados, estreitos ou com divisórias;
  • Regadores;
  • Cercas ou muros;
  • Plataformas;
  • Dispositivos “antiskate”;
  • Ou outros ornamentos mais sutis.
(imagem extraída de Hometeka)
(imagem extraída de Hometeka)

+ Os impactos sobre o ambiente urbano 

A ‘arquitetura hostil’ tem um efeito muito negativo na paisagem. O desenho urbano torna-se muito rígido e os espaços públicos ficam mais restritos e difíceis de usar. Eles perdem totalmente a finalidade para o qual foram projetados, promovendo a desigualdade, a intolerância, a discriminação e tantas outras ações desumanizadoras.

Para quem só tem a alternativa de se manter vivo estando nas ruas, não basta uma política imediatista como essa. O auxílio precisa vir em curto prazo. A boa arquitetura pode ajudar, mas não é o bastante. Todos deveriam ser iguais perante a lei. Todos deveriam ter o direito fundamental à vida, à propriedade privada e de ir e vir. Porém o mais importante é a mudança de pensamento e o exercício constante da caridade, do respeito e do amor ao próximo. E isso pode ser feito por todos, começando por você!

(imagens extraídas de Hometeka e Socialista Morena)
(imagens extraída de Racismo Ambiental e Voz Populi)

Fontes: HometekaPragmatismo PolíticoUpdateor DieProjeto ColaboraVitruvius.